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Em uma avenida de trânsito pesado, um outdoor vertical exibe uma gigantesca imagem da atriz Juliana Paes vestindo só calcinha e sutiã, em um comercial de lingerie. Com seu cabelão comprido e pele morena à la Gabriela, ela joga o quadril meio de lado, num leve contorcionismo que faz com que pareça ter mais cintura do que tem. Mesmo truque usado por Gisele Bündchen em fotos de biquíni. Repare. A modelo gaúcha, do alto de sua beleza, se contorce para os lados ou para trás para aumentar a circunferência dos quadris ou a protuberância do bumbum. A moda exige corpos magros, mas o instinto masculino pede curvas.

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Uma rádio imaginária na minha memória começa a tocar a baião de Luiz Gonzaga:

"Vem cá cintura fina

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Cintura de pilão

Cintura de menina

Vem cá meu coração."

Pois temo, senhoras e senhores, que a cintura fina, tal qual era exibida no cinema e nas revistas, tenha sumido. Anuncio solenemente algo que todo mundo já deve ter notado. Consulto o preparador físico Leandro Hadlich. Essas moças das fotos de moda não têm cintura por conta da atividade física pesada? Muito exercício para "chapar" a barriga tem como efeito colateral o sumiço da curva da cintura? Não, me responde Hadlich. Ele suspeita que o desaparecimento da cintura de pilão das fotos que vemos por aí é culpa de uma seleção "não natural". As modelos são escolhidas por serem secas e as muito magras não têm cinturinha de pilão.

A cintura fina vem em par com quadris redondos, sem os quais falta o contraste que provoca aquele efeito ótico cantado pelo Rei do Baião:

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"Cintura, cinturinha

Cintura cintadinha,

Fina, fina, finazinha

Cintura emborcadinha,

bem fininha de pilão."

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Tenho um livro em casa, The Human Sexes (Os Sexos Humanos), do zoólogo e especialista em comportamento Desmond Morris, que fala sobre as diferenças entre homens e mulheres. Diz ele que conforme nossos ancestrais definiram seus papéis (os homens, caçadores, e as mulheres, coletoras de frutos e sementes e responsáveis pelas crianças), seus corpos também enfatizaram algumas características. Os homens precisaram de músculos e as mulheres, de resistência à doenças e de reservas de gordura. A gordura (25% do peso feminino e 12,5% do corpo masculino) garantiu uma sobrevida maior para as mulheres nos períodos de fome e, assim, elas puderam lutar para que seus filhos também sobrevivessem. A gordura, nota Desmond Morris, dá à mulher "uma de suas características mais femininas – as curvas de sua figura".

(Morris conta outra utilidade da gordura corporal feminina, esta menos agradável. Na Antiguidade, quando corpos tinham que ser incinerados, era colocado junto às pilhas de cadáveres de homens um único cadáver de mulher, que "queimava como uma tocha", ajudando a manter o fogo aceso.)

Uma leitura possível dessa explicação zoológica para as formas humanas é que as gordinhas são os seres mais evoluídos da espécie humana e não as párias em que a moda as transformou. Se tiverem cintura fina, então, merecem ser cantadas em prosa e baião.