O principal sistema de monitoramento de tubarões na costa do Recife estava inoperante havia sete meses, por problemas orçamentários, quando a uma jovem turista paulista foi atacada na manhã de segunda-feira. A informação é do especialista Fabio Hazin, pesquisador da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e um dos fundadores do Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit).

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Desde 2004, Hazin e outros cientistas ligados à ONG Instituto Oceanário operam um programa permanente de captura e remoção de tubarões do litoral do Recife. O sistema consiste em pescar os tubarões, marcá-los com etiquetas de rastreamento e soltá-los em águas mais profundas, bem longe das praias e dos banhistas.

Mais de 80 tubarões de espécies consideradas "agressivas" (principalmente o tigre e o cabeça-chata) foram capturados assim nos últimos oito anos, e a redução do número de ataques foi de 90%, segundo Hazin.

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Vinte ataques foram registrados nesse período, sendo apenas três nos 83 meses em que o sistema estava operacional. Todos os outros ataques (17) ocorreram fora da área de monitoramento ou em períodos em que o programa não estava operacional, por falta de recursos -- entre eles, este caso mais recente, de Bruna Gobbi, que foi mordida na segunda-feira. Ela foi levada a um hospital, com a perna dilacerada, mas morreu.

"É o programa de monitoramento de tubarões mais eficiente do mundo", disse Hazin ontem, em uma palestra na reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que coincidentemente ocorrendo nesta semana no Recife.

Outro lado

O secretário de Comunicação do governo, Evaldo Costa, questionou, ironicamente, a possibilidade de haver relação entre a suspensão temporária do projeto e o ataque de segunda-feira. "Parece até que os pesquisadores treinam os tubarões para conseguir recursos. É muito curioso isso, muito estranho. É incompreensível fazer uma interpretação de que haja qualquer vinculação entre uma coisa e outra", disse.

"As estatísticas falam por si só", rebateu Hazin. Segundo ele, seriam necessários R$ 1 milhão para o programa funcionar o ano inteiro sem interrupção, com duas embarcações."

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