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Ônibus

Alferes Poli: a linha do constrangimento

Passageira passa por baixo da catraca para não pagar passagem. Por vandalismo ou necessidade, em algumas linhas esse tipo de comportamento é rotina | Daniel Derevecki/Gazeta do Povo
Passageira passa por baixo da catraca para não pagar passagem. Por vandalismo ou necessidade, em algumas linhas esse tipo de comportamento é rotina (Foto: Daniel Derevecki/Gazeta do Povo)

Em uma viagem de ida e volta feita pela reportagem da Gazeta do Povo na semana passada, no fim da tarde, metade dos passageiros não pagou passagem: 15 de 30. Pouca gente para um horário de pico, o que faz parecer que os passageiros têm fugido da linha. Não é para menos. O trajeto que vai da Praça Rui Barbosa à Estação Fanny passa pela Vila Parolin e serve de transporte não só para trabalhadores, mas tam bém para usuários de drogas e traficantes. Na semana passada, ao menos uma pessoa que pe­­­gou o ônibus com a reportagem usou a linha para transportar drogas. Alguém que comentou com a moça ao lado não "trabalhar" mais na Travessa Nestor de Castro, no São Francisco, pela forte presença da Guarda Municipal no local atualmente.

O motorista Reginaldo* trabalha na linha há quase um ano e não vê a hora de sair. Segundo ele, uma operação do Grupo Tático Velado da Polícia Militar, deflagrada em abril e que resultou na detenção de 26 pessoas, adiantou apenas por três semanas. "Nin­­guém paga, mesmo tendo como. E sei que muitos têm como pagar porque, às vezes, pedem para trocar 15, 20 reais em moedas." Muitos deles pedem "carona" fora do ponto. E ai do motorista se não parar. A resposta pode ser uma pedrada ou coisa pior.

A situação é antiga e tinha sido retratada na Gazeta do Povo ainda em 2008. Até o ano passado problemas parecidos ocorriam também na linha Vila Reno, que vai para o bairro Uberaba. O Grupo Tático Velado acredita que as operações realizadas na linha surtiram efeito e não tem recebido mais reclamações.

"A gente não pode fazer nada. Quando tem operação policial pedem para a gente depor, mas vamos fazer isso como? As linhas da empresa em que trabalho estão todas na Rui Barbosa e na Nestor de Castro e os meninos que pegam o Alferes Poli estão sempre nesses dois pontos."

Motorista-ator

Quem olha de fora pensa que o motorista Reginaldo é amigo do bando que entra no ônibus falando alto, na maior naturalidade. Bate papo, pergunta como está fulano e o que aconteceu com ciclano que não aparece mais. Mas tudo não passa de um papel bem representado para o seu próprio bem. "Eles não pagam passagem, mas também não assaltam", pondera. Prestes a entrar em férias ele pensa até em mudar de ramo. "Esta é a pior linha para se trabalhar em Curitiba."

Se por um lado a linha é usada como transporte para tráfico de drogas, por outro a facilidade de pular a catraca também beneficia, de certa forma, quem não é criminoso. Marilda dos Santos, de 47 anos, é diarista, mas está desempregada e luta contra o câncer há cinco anos. O único jeito de ela vir da Vila Parolin, onde mora, e ir para entrevistas de emprego no Centro e tratamentos no hospital Erasto Gaertner é de penetra nos ônibus. "Não consigo um serviço há 7 meses. Dependo sempre do motorista, tem uns que deixam, outros que não. Eu gostaria de ter um cartão desses de isento, mas acho que não posso, não sou idosa." Se­­­gundo a Urbs, Marilda pode sim. Por estar no meio de um tratamento contra o câncer se encaixa em um dos grupos que não precisam pagar passagem, o de pessoas com deficiência e outras patologias crônicas.

* nome fictício.

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