Processo
Defesa diz que vingança foi motivo da denúncia contra a médica
Da Redação*
O advogado Elias Mattar Assad, que defende a médica Virgínia Helena Soares de Souza, acusada de causar a morte de pacientes da UTI do Hospital Evangélico, antecipou que vai alegar na apresentação preliminar da defesa que houve falsa perícia, denunciação caluniosa, falsa comunicação de crime e coação no curso do processo. Ele argumenta que a fisioterapeuta Karina Carrer fez a denúncia motivada por um sentimento de vingança, provocado pela rigidez no tratamento dentro da UTI.
"A doutora Virgínia era muito rigorosa com os enfermeiros, por isso era considerada o diabo dos funcionários", afirma o advogado. "Mas cuidava muito dos enfermos. Os que entraram em óbito entrariam de qualquer jeito, pois não tinham chance nenhuma de sobreviver."
Famílias
Segundo o criminalista , as famílias que deram queixa na polícia poderão responder na Justiça. O advogado afirma que elas não teriam como provar que seus parentes foram mortos intencionalmente por Virgínia. "As pessoas não sabem como funciona uma UTI. Tudo o que é feito lá dentro é com base na ciência médica. Ali é o limite entre a vida e a morte", disse o advogado.
A defesa de Virgínia será coordenada com a defesa dos outros indiciados e usará laudos de peritos e especialistas. O advogado Mattar Assad diz acreditar que a cliente não será submetida a júri popular e que o processo será longo, com mais de dez anos de tramitação, caso todas as testemunhas possíveis sejam arroladas pelos oito indiciados no caso.
*A reportagem acima foi produzida por Andrea Torrente, Antoniele Luciano e Lucas Gabriel de Marins, trainees do programa Talento Jornalismo GRPCom 2013.
A fisioterapeuta Karina Carrer foi a primeira pessoa a denunciar os óbitos que ocorreram na UTI geral do Hospital Evangélico de Curitiba e que acabaram sendo investigados pela polícia. Formada há 11 anos, a fisioterapeuta já havia trabalhado em outros hospitais e UTIs e afirma que nunca havia visto nada parecido com os procedimentos adotados no setor comandado pela médica Virgínia Helena Soares de Souza. Ela diz que chamava a atenção o grande número de óbitos ocorridos nos primeiros dias de internação, o que, segundo ela, não era comum em outros hospitais onde trabalhou. Em entrevista à Gazeta do Povo, ela nega que a denúncia seria uma vingança por desavenças pessoais entre os funcionários da UTI.
Como você decidiu denunciar o que ocorria dentro da UTI?
Fiz a primeira denúncia na ouvidoria do estado em março do ano passado e continuei trabalhando no hospital. Eu achava que a qualquer momento a polícia ia chegar e eu poderia ajudar. Continuei na UTI por causa disso. Em maio, pedi para mudar de setor. Ainda continuei na instituição por alguns meses e, quando decidi sair, pedi demissão. O que você notou de estranho que não havia em outros lugares?
Os óbitos. Sempre trabalhei em UTI e nunca tinha visto alguma coisa desse tipo em toda a minha vida. Eu acredito que alguns pacientes teriam chance de recuperação. O prognóstico era fechado muito rapidamente. Às vezes o óbito vinha com dois dias de internação, o que é pouquíssimo tempo. Você contou a alguém que fez a denúncia?
Não avisei ninguém por medo de represálias. Todas as pessoas que trabalhavam lá eram meio revoltadas com o que acontecia, mas todos tinham muito medo dela [da médica Virgínia], porque ela era muito explosiva. Isso inibia as denúncias. Todo mundo sentia que ela era muito poderosa. E como você está agora?
Estou acompanhando o caso, mas estou apreensiva. Esperava que a investigação acontecesse, mas não que ela fosse presa, e nem as outras pessoas. Só queria que não acontecesse mais nada do que aconteceu. Tudo aquilo que aconteceu foi de uma maneira gratuita. Os pacientes e os familiares não têm culpa. A acusação da defesa da médica é de que todo o processo começou por uma briga pessoal dos funcionários. Qual sua opinião a respeito?
Havia atraso de pagamentos e insatisfação dos funcionários, mas nós, que trabalhávamos na UTI, não entrávamos em greve, até porque é um lugar que não dá pra abandonar. Mas não era rixa pessoal com a médica. Não quero me vingar dela, nunca quis.
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