A Organização Mundial de Saúde (OMS) adverte: a obesidade é uma das maiores ameaças à integridade da saúde no mundo. O excesso de gordura corporal aumenta o risco de desenvolver doenças como hipertensão arterial e diabete, além de complicações cardiovasculares. E existem indícios fortes de que esteja relacionado à manifestação de vários tipos de câncer: endométrio, rim, vesícula, pâncreas, mama e intestino estão na lista de vítimas possíveis.
A União Internacional de Controle do Câncer (UICC), organização não-governamental dedicada ao controle da doença, estima que a alimentação inadequada, o sedentarismo, o sobrepeso e a obesidade sejam responsáveis por aproximadamente 30% dos casos de câncer nos países ocidentais. Trata-se da segunda maior causa evitável de câncer, atrás apenas do tabagismo.
A melhor maneira de prevenir o excesso de peso é manter um estilo de vida saudável e ativo desde os primeiros anos de vida.
Estudos realizados pela UICC revelam que a prática de atividade física e uma dieta rica em vitaminas e fibras desde a infância podem evitar o surgimento do câncer ao longo da vida.
A relação entre obesidade e câncer ainda não foi bem esclarecida pela comunidade médica. Atualmente, acredita-se que as células de gordura produzam altos níveis de insulina e de estrogênio, o que contribuiria para acelerar a divisão e a reprodução das células. Pesquisas recentes sugerem que quanto mais células se duplicam maiores as chances de surgirem células malignas. Com o aumento de hormônios no organismo, essas células se reproduzem mais rapidamente.
Mas o cirurgião oncológico Luiz Antônio Negrão Dias, do Hospital Erasto Gaertner, alerta que os estudos, embora numerosos, ainda não são conclusivos. "Por outro lado, já está mais do que comprovada a relação entre má alimentação e câncer. Os hormônios que ingerimos por meio da carne vermelha, por exemplo, podem alterar o metabolismo das células e, assim, causar a doença", explica.
Por isso dietas restritivas e pouco nutritivas não são a solução. Observar a qualidade dos alimentos que a sua família está consumindo é muito mais importante do que controlar a quantidade.
É o que faz a jornalista Irma Bicalho Patzch, mãe de Matthäus, de 10 anos, Johann, 5, e das gêmeas Maria Clara e Ana Júlia, 3.
Com um histórico de várias doenças na família, entre elas colesterol alto e diabete, ela dedica atenção especial à alimentação das crianças. "Não sou radical, mas procuro oferecer a eles o que é saudável e restringir o consumo de carne vermelha, além de frituras, doces e refrigerantes. Também conversamos muito sobre a relação entre alimentação e saúde, porque quero que eles aprendam a fazer as próprias escolhas. Acho que tem dado certo. O meu filho mais velho tem o costume de tomar café sem açúcar e de não temperar a salada. Acredito que o mais importante é eles terem essa consciência", acredita Irma.
Câncer infantil
Os cuidados com a alimentação dos pequenos são indicados principalmente para prevenir a formação de tumores no futuro. Doenças como hipertensão, colesterol alto e diabete, diretamente relacionadas ao sobrepeso, podem aparecer ainda na infância, ao contrário do câncer. "A doença leva anos para se desenvolver, décadas até", lembra a endocrinopediatra Margareth Boguzewski, do Hospital das Clínicas.
De acordo com a chefe de pediatria do Hospital Erasto Gaertner, Mara Albonei, estudos apontam que bebês com maior peso ao nascer teriam maior risco de apresentar leucemia. Outras pesquisas demonstram que o tipo de alimentação dos pais pode afetar o gene do feto, assim como o consumo de alguns medicamentos e o tabagismo. "Mas essas pesquisas são muito precoces, nada está comprovado", alerta a médica.