Repercussão
Políticas públicas esquecem os idosos, diz especialista
Para o chefe do setor de geriatria do Hospital Cajuru e professor de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), José Mário Tupiná, a implantação do programa de Cuidados Continuados significa o começo de diversas ações que precisam ser feitas para os idosos. "Faltam ainda políticas públicas que possibilitem que as pessoas envelheçam com saúde e com menos grau de dependência", afirma.
Segundo ele, essa realidade levará décadas para mudar no Brasil, já que "existem muitos programas de saúde específicos para determinadas doenças, mas não para a saúde funcional das pessoas". Esse problema, de acordo com o professor, decorre do fato de o Brasil ainda não ter "acordado" para o assunto. "A população brasileira está envelhecendo cada vez mais e de forma mais rápida. Isso é um desafio para os governantes. É necessário conseguir dar uma velhice saudável para as pessoas", ressalta. Caso contrário, a tendência é de que os gargalos na saúde aumentem. "Além disso, é fundamental existir recursos humanos capacitados em atender esse público", completa.
Opção
Atendimento na própria residência é alternativa mais digna
A presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia Seção Paraná, Débora Lopes, defende que o atendimento médico na própria residência do paciente idosos é uma alternativa que precisa ser analisada. Segundo ela, muitos pacientes podem receber o cuidado continuado em casa com auxílio de médicos e enfermeiros. "É um tratamento mais digno. Deixar os idosos em um hospital de alta complexidade pode ser pior. Muitos ficam de cama por um tempo e depois não conseguem mais andar", relata.
Débora ainda afirma que hoje, na maior parte dos casos, a responsabilidade no cuidado dos idosos fica exclusivamente por parte dos familiares. "Mas a sociedade como um todo é responsável. O governo deve se preparar para um tratamento correto e adequado para esses pacientes", salienta.
Meta
O projeto Rede de Cuidados Continuados Integrados, que conta com equipes de nutricionistas, médicos, enfermeiros e fisioterapeutas, pode se expandir e deve chegar a mais três hospitais do Paraná até o final do primeiro semestre do próximo ano. De acordo com o governo estadual, a meta é conseguir, até dezembro de 2014, estar presente em pelo menos um hospital de todas as 22 regionais de saúde.
O número de pacientes acima dos 65 anos é responsável por 20% das internações no sistema de saúde pública do Paraná há pelo menos cinco anos. É a faixa etária com o maior índice de atendimentos no estado (veja infográfico). Esse fenômeno está motivando ações para possibilitar um atendimento mais adequado à terceira idade. Um dos projetos, realizado em parceria entre Ministério da Saúde, Secretaria Estadual de Saúde e o Hospital Samaritano (SP), é usar hospitais de pequeno porte, com até 50 leitos, para receber pacientes mais velhos que não precisam ocupar um leito de alta complexidade, mas sem condições de retornar para casa.
INFOGRÁFICO: Pacientes idosos são a maioria na saúde pública do PR
O Projeto de Rede de Cuidados Continuados Integrados aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) já está sendo implantado em quatro cidades do Brasil Cuiabá (MT), Franca (SP), Teresina (PI) e Rebouças, no interior do Paraná. A ação ainda é considerada um programa piloto que, posteriormente, deverá ser estendido como uma política de atenção à saúde para todo território nacional.
O projeto prevê que pacientes que necessitem de cuidados mais prolongados possam ser transferidos para unidades preparadas para essa finalidade, dispondo de uma atenção multidisciplinar, que atenda às suas necessidades. Com isso, a ideia é que ocorra uma melhora na gestão melhor dos leitos de alta e média complexidade, e dando um atendimento melhor para quem precisa de mais tempo de recuperação. "O foco prioritário são os idosos. São eles que, por exemplo, mais sofrem fraturas e levam mais tempo para se recuperar", afirma o diretor da 4ª Regional de Saúde do Paraná (da qual Rebouças faz parte), João Almeida Júnior.
Segundo o governo do estado, atualmente cerca de 12% da população paranaense têm mais de 60 anos e a tendência é que isso aumente nos próximos anos. Esse envelhecimento da população faz com que o número de internações de idosos também cresça no estado. "Hoje a saúde pública e privada não estão preparadas para atender esse público", constata Almeida. De acordo com ele, a utilização dos hospitais de pequeno porte para este novo projeto é uma solução para manter esses serviços em funcionamento. "Muitos hospitais de pequeno porte apresentam baixas taxas de ocupação e têm dificuldades financeiras. A implantação dos cuidados continuados auxiliará no custeio das atividades", afirma. Hoje, dos 429 hospitais que atendem o SUS no estado, cerca de 300 possui menos de 50 leitos.
O hospital Dona Darcy Vargas, de Rebouças, possui 36 leitos e, segundo Almeida, a taxa de ocupação era de 17%. Vinte desses leitos foram destinados aos Cuidados Continuados. "Dessa forma, o paciente que realiza uma cirurgia e teria uma alta em cinco dias ao invés de ir para casa vem se tratar aqui para evitar infecções e outras complicações, desocupando o leito do hospital em que a operação foi realizada", explica o diretor.
Ideia é fazer com que não pareça hospital Rebouças
Maria Gizele da Silva, da sucursal em Ponta Grossa
Quando um paciente idoso recebe alta, mas não tem condições de fazer o tratamento adequado para a sua recuperação em casa, um hospital de reabilitação se faz necessário. O atendimento, no entanto, ainda não existe na rede pública no Brasil. A expectativa é que até o final do primeiro semestre do ano que vem, o Paraná possa contar com o serviço. O Hospital Darcy Vargas, em Rebouças, na região Centro-Sul, foi selecionado pelo governo estadual para um projeto piloto que deve atender até 20 pacientes da região de Irati, também no Centro-Sul.
O hospital terá uma Unidade de Cuidados Integrados (CCI) para atender pacientes, preferencialmente idosos. O prazo máximo de internação será de 90 dias e, nesse período, o paciente será atendido por uma equipe multidisciplinar. "O paciente poderá até decorar o seu quarto, poderá ficar à vontade, porque não queremos que ele se sinta num hospital", comenta a secretária municipal de Saúde, Eva de Jesus Ruppel.
Para conhecer os projetos de reabilitação, uma delegação de 16 pessoas do Paraná foi, no início deste ano, a hospitais de Barcelona, na Espanha, e Lisboa, em Portugal, para uma imersão nos projetos já desenvolvidos. Paralelamente, uma equipe com cerca de 50 pessoas passa por uma capacitação no Paraná. Os estudos vão até janeiro do ano que vem. A inclusão do Hospital Darcy Vargas no projeto foi possível após uma parceria entre a Secretaria Estadual de Saúde. Será investido R$ 1,5 milhão na reforma e ampliação do hospital. Ele tem 42 leitos e a taxa de ocupação é muito baixa porque o estabelecimento não tem estrutura para realizar cirurgias complexas, apenas cesáreas. "A nossa média é de oito a 10 pacientes por dia. Os casos mais graves são encaminhados para Irati e Ponta Grossa", acrescenta a diretora-administrativa, Alice Simioni. Com a obra, 20 leitos serão destinados à unidade de reabilitação e os 22 restantes para os internamentos normais.
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