Cercada de mistério, a queda de um menino de 12 anos do quinto andar do Colégio de São Bento, no Centro, na tarde de sexta-feira (28), chocou uma das mais respeitadas instituições de ensino da cidade. O delegado adjunto da 1ª Delegacia de Polícia (DP), Praça Mauá, Aldrin Genuíno da Rocha, afirmou que vai ouvir o serviço de psicologia da escola para traçar o perfil do estudante. O acidente ganhou repercussão nas redes sociais. No Twitter, alguns comentavam que o aluno, que cursa o 7º ano do ensino fundamental, estaria sofrendo bullying - seria vítima de repetidas agressões psicológicas na escola. Na noite de segunda-feira (1º), o estudante continuava internado no CTI do Hospital Souza Aguiar, inconsciente e em estado muito grave. Ele sofreu traumatismo craniano e foi submetido a uma cirurgia no baço. Parentes contaram, enquanto aguardavam notícias na porta do hospital, que a saúde do estudante havia piorado.

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O caso foi registrado no sábado (29) à tarde na 5ª DP, Centro, por funcionários do colégio, como lesão corporal culposa. As investigações, no entanto, estão sob a responsabilidade da 1ª DP. Uma perícia na escola deve ser feita nesta terça-feira (2).

Polícia busca imagens da queda

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A polícia vai buscar imagens de câmeras do São Bento ou de possíveis celulares que possam ajudar a esclarecer o caso. Ainda esta semana, parentes do aluno devem ser ouvidos. Funcionários do São Bento também serão chamados pela polícia para dar informações.

"É preciso ouvir as pessoas da escola e colher as imagens para saber o que de fato aconteceu. Somente hoje (segunda-feira) o caso chegou a nós. É muito prematuro afirmar qualquer coisa neste momento. Primeiro vamos ouvir o colégio, depois a família, que passa por um momento muito doloroso. Temos que respeitar", afirmou o delegado Aldrin.

Os pais do estudante, outros parentes e amigos que, no Souza Aguiar, acompanhavam o estado de saúde do adolescente não queriam falar sobre o caso ontem com a imprensa. Um dos tios disse apenas: "Nós estamos agora só pensando na saúde dele".

De manhã, foi celebrada uma missa na capela do hospital pela saúde do aluno. Além disso, um advogado da escola esteve no Souza Aguiar. A família do estudante, de acordo informações prestadas por amigos, tem fortes ligações com a instituição de ensino - a mãe do aluno seria professora da escola.

Em nota publicada no site do São Bento, a reitoria afirma que o estudante sofreu uma queda de "alta gravidade", ocorrida no horário de saída da escola. Ainda de acordo com o colégio, todas as informações já foram dadas oficialmente às autoridades. Para a escola, o momento é de reserva e de silêncio, um pedido dos parentes da vítima.

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Na tarde de segunda-feira, no horário de saída dos alunos, o assunto dominava as rodas de conversa na Rua São Bento. Mas todos evitavam comentar o episódio com a imprensa. De acordo com relatos de motoristas que fazem o transporte de estudantes, o adolescente acidentado teria despencado de uma das janelas do corredor, após assistir à última aula da sexta-feira (28).

"A movimentação hoje (segunda-feira) no colégio foi normal. Ficamos sabendo (da queda do aluno), mas isso não afetou a rotina", contou um dos alunos do São Bento. "Disseram à gente que ele se jogou".

"Só fui saber do ocorrido no sábado. Até achei estranho o silêncio dos alunos. Ninguém me disse nada", acrescentou um motorista.

Psicanalista alerta para riscos de bullying

O psicanalista Luiz Alberto Py afirma que o bullying, somado a condições emocionais do adolescente, pode desembocar numa tragédia. Py ressalta que o colégio, apesar de corresponsável pelos cuidados ao aluno, dificilmente teria como prevenir a queda.

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"Essa é uma faixa etária complicada, em que a criança está sofrendo transformações hormonais. Essa agressão ao diferente, que é instintiva, somada à questão emocional do adolescente, pode ter desdobramentos de violência extrema. Há quem atravesse o bullying sem percalços, outros encontram mais dificuldades. O colégio tem responsabilidade legal pelo cuidado aos alunos. Mas nesse caso é complicado culpar a instituição, conhecida pelo rigor na disciplina. Como prevenir e se antecipar a uma tragédia?", comentou o psicanalista.

Um outro episódio chamou a atenção para o Colégio de São Bento, no ano passado: os pais de um aluno de 6 anos registraram na delegacia uma agressão que teria sido sofrida pela criança dentro da escola. Segundo o relato feito à Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), o menino teria sido agredido por um adolescente de 14 anos, estudante do ensino médio, em junho de 2011. Tudo teria começado quando a criança e alguns amigos pediram para brincar com o grupo do ensino médio. A vítima teria levado três rasteiras de um dos alunos mais velhos, sofrendo três lesões na cabeça.

Disciplina e boa formação, marcas da escola

O Colégio de São Bento foi fundado pelo Mosteiro de São Bento em 1858 e é uma das instituições de ensino mais antigas do Rio. A unidade, administrada por monges beneditinos, é uma escola de formação católica, que oferece ensino fundamental e médio, e só aceita alunos do sexo masculino. Em 2004, chegou-se a cogitar a aceitação de matrículas de meninas, mas a proposta não vingou porque o prédio, no Centro, precisaria passar por adaptações para receber as estudantes.

A disciplina e a boa formação dos professores são dois trunfos do São Bento, que figura entre as melhores escolas do país. Mais da metade do corpo docente tem pelo menos uma pós-graduação, embora os cursos lato ou stricto sensu não sejam uma exigência. Ao todo, os professores lecionam 16 disciplinas, e esses esforços têm valido a pena. Os estudantes conquistaram o topo da lista no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em quatro edições: 2005, 2007, 2008 e 2010.

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Para se ter uma ideia, das cem escolas com notas mais altas no Enem de 2008, 29 eram do Rio e, em primeiro lugar, ficou o São Bento. Naquele ano, a escola repetiu o desempenho do exame de 2007. A nota média de 80,58 pontos na prova objetiva e na redação contribuiu para a boa colocação dos alunos.

O modelo de ensino adotado no São Bento é o da formação continuada, que, segundo especialistas, ajuda a explicar os bons resultados da escola. Um aluno do terceiro ano, por exemplo, enfrenta uma maratona semanal de estudos. De segunda a sexta-feira, as aulas vão das 7h30m às 16h30m. Aos sábados, há sempre duas provas.