Nas salas de aula eles são tímidos, distraídos, desinteressados ou simplesmente não acompanham o ritmo dos colegas. O boletim reflete o déficit de aprendizagem. São os alunos "fracos", geralmente abatidos por um bloqueio que pode estar relacionado mais a um problema de auto-estima e de motivação do que à competência intelectual. Nas escolas municipais de Curitiba, ajudá-los a superar esta barreira e colocá-los no mesmo nível dos demais é a tarefa de um batalhão multidisciplinar de 200 profissionais distribuídos nos oito Centros Municipais de Atendimento Especializado (Cemaes). Um trabalho pioneiro no país que tem dado bons resultados.
A importância deste trabalho não se mede em números, mas eles ajudam a entender a sua existência. A quantidade de crianças atendidas baterá na casa das 20 mil até dezembro, mantendo a média dos dois últimos anos. Passam pelos oito Cemaes o equivalente a 17% dos 115 mil alunos da rede municipal. E os atendimentos vão aumentar graças à parceria das secretarias de Educação e da Saúde, que há três meses permitiu elevar de 23 para 38 o número de psicólogos que atuam no setor. Os Cemaes contam ainda com o trabalho de pedagogos e professores especializados, reeducadores auditivos e visuais, fonoaudiólogos e fisioterapeutas.
O norte destes profissionais é a metacognição, que nada mais é do que levar o aluno a discutir e a pensar sobre como faz as coisas, sobre como aprende. Mais do que simplesmente ajudá-lo a superar este bloqueio, é preciso fazê-lo perceber que pode superá-lo. O primeiro passo parte da escola, onde os pedagogos identificam os casos de déficit de aprendizagem e encaminham a criança para uma Avaliação Diagnóstica Psicoeducacional (ADP) em alguma unidade do Cemae. Ali, uma equipe especializada dirá se ela terá de ir para uma escola especial, para uma classe especial ou se continua no ensino regular, com atendimento especializado no contraturno.
Tem sido assim desde 1989, com a implantação do primeiro Cemae em Curitiba. O serviço ganhou corpo, se expandiu e se instalou em oito das nove regiões da capital (os casos da Regional CIC são atendidos nas unidades do Portão, de Santa Felicidade, do Pinheirinho e da Matriz). Os oito Cemaes devem fechar o ano com 71 mil atendimentos, quase 5% a mais do que o ano passado. Toda esta evolução foi acompanhada de perto pela coordenadora do Departamento de Educação Especial da prefeitura, Iáskara Maria Abrão, uma das fundadoras da primeira unidade. O importante, diz ela, é compreender as necessidades desta clientela.
O bloqueio limitador da aprendizagem pode estar dentro de casa. A maioria destas crianças reflete na escola os problemas domésticos. Elas vêm de família com condições sociais, econômicas e culturais muito baixas, muitas vezes desestruturada por causa das drogas e da violência. "Toda esta carga emocional prejudica o desempenho escolar", constata Iáskara. Amenizar estas conseqüências negativas é a missão da equipe multidisciplinar dos Cemaes. Não há um prazo limite para que uma criança freqüente a unidade, mas a média, segundo a educadora, é de um ano.
Os atendimentos são individuais, mas já começaram as primeiras experiências em grupo no Cemae Maria Cândida Fankin Abrão, no Pinheirinho. Na avaliação da diretora da unidade, Annemaria Kottel, em algumas situações esta modalidade de tratamento terapêutico tem sido mais adequada. Ela permite melhor socialização e entrosamento entre as crianças reunidas em grupos de afinidade. Um dos princípios do Cemae, diz Iáskara, é compreender o entorno social das crianças. Por isso, os psicólogos conversam com os pais e uma vez por semana visitam as escolas para ouvir professores e diretores.
Além de contar com os serviços de cada Cemae, as escolas do município ainda têm dentro de sua estrutura 88 classes especiais e 59 salas de recursos. Nas salas de recursos a criança desenvolve suas habilidades. Já na classe especial, ela passa por um período transitório para voltar à classe regular. Hoje, 1.180 alunos com algum tipo de deficiência estão incluídos nas 170 escolas municipais, a maioria portadora da chamada conduta típica, constituída basicamente pelo altismo, esquizofrenia e transtorno bipolar.
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