Era madrugada quando o estudante Josiel Machado Bonfim, 33 anos, se levantou para beber água. No escuro, pensou em como deficientes visuais sabiam quando o copo estava cheio ao usar um filtro ou bebedouro. Matou a sede e voltou a dormir, mas a inquietação persistiu. No outro dia, dividiu-a com três colegas do curso de Engenharia Elétrica da Universidade do Norte do Paraná (Unopar), de Londrina. Juntos, desenvolveram um equipamento para portadores de deficiência visual.
O invento de Josiel, Paulo Ranutti, Éder Goulart Ferreira e André Sérgio da Silva consiste num bebedouro com sensor que avisa quando a água chega ao limite do copo. Foram dois meses de pesquisas e testes. Parte de um trabalho sobre Cálculo Integrado, a iniciativa acaba de ser patenteada. "É algo que ainda não temos no mercado. Todos elogiaram", comenta Josiel.
Aperfeiçoamento
A adaptação do produto convencional teve ainda o desenvolvimento de um piso tátil em forma de gotas para ajudar o deficiente a localizar o bebedouro. O equipamento foi programado para encher automaticamente copos de até 180 ml. Também é possível reprogramar a máquina para copos maiores. "Quando o copo começa a encher, o sensor emite um bip. Assim que termina, mais três bips para avisar que está cheio. Se não retirá-lo, continuará apitando", explica.
Como trabalham com eletroeletrônica e eletrotécnica, os universitários aproveitam as folgas para discutir o que ainda pode ser aperfeiçoado. Em busca de parceiros, querem levar o bebedouro para locais públicos como shoppings, praças e terminais de ônibus. O invento foi testado durante dez dias na Escola de Cegos de Londrina. "A engenharia também pode ter esse viés social, ser usada para ajudar outras pessoas", define Josiel.
Foram dois anos da ideia ao patenteamento. Houve diversas dificuldades para levar o projeto adiante, desde a parte técnica à financeira. "Primeiro, foi difícil aplicar o cálculo ao que queríamos no bebedouro, depois, encontrar o sensor certo. Na hora de patentear, tivemos que fazer uma rifa de uma calculadora HP. O restante do valor nós tiramos do nosso bolso", diz Paulo.
O grupo estima ter gastado R$ 700 no projeto e R$ 1,2 mil no registro do invento. "Quero continuar com projetos nessa área, voltado a deficientes. Temos dois projetos novos em vista já", diz Paulo. Para Josiel, mais incentivo para pesquisas voltadas à tecnologia assistida ajudaria a evitar que propostas como a de seu grupo fossem parar na gaveta. "Há projetos bons na área, mas sem ajuda, eles acabam parados".