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Em Curitiba

Alunos do Colégio Estadual vivem rotina de assaltos

Estudantes atravessam a rua Luiz Leão, ao lado do Colégio Estadual do Paraná | Giuliano Gomes/Agência de Notícias Gazeta do Povo
Estudantes atravessam a rua Luiz Leão, ao lado do Colégio Estadual do Paraná (Foto: Giuliano Gomes/Agência de Notícias Gazeta do Povo)

"Uma aluna quase foi assaltada. Ela está lá na diretoria", disse a inspetora Isabel de Oliveira, do Colégio Estadual do Paraná (CEP), em Curitiba, por volta das 21h30 da noite de terça-feira (10).

A tentativa aconteceu na Rua Agostinho de Leão Junior, atrás do colégio, em um dos pontos de ônibus onde passam linhas que levam para a Região Metropolitana de Curitiba. Bastante nervosa, a estudante, que não quis se identificar, contou sobre o susto e sensação de insegurança que teve, mesma situação pela qual vários outros alunos passam diariamente nos arredores da instituição.

"Eu tinha acabado de chegar ao ponto de ônibus quando um homem subiu a rua correndo, chegou e tentou assaltar a mim e às outras pessoas que estavam no ponto. Mas eu corri para o colégio. Foi horrível", disse a aluna de 18 anos. A tentativa de assalto ocorreu no momento em que a reportagem da Gazeta do Povo terminava uma entrevista com outros alunos que já haviam passado por situações semelhante nas ruas do entorno do CEP.

Quatro policiais militares do Batalhão de Patrulha Escolar de Curitiba (BPEC) conversavam com a equipe quando a inspetora comentou sobre o assalto. Eles foram até a sala da direção, orientaram a aluna a fazer boletim de ocorrência e realizaram rondas na região e pediram a descrição do suspeito para a jovem. Apesar da rapidez da chegada dos policiais nesta situação, segundo alunos e a direção do colégio, não é sempre que há policiamento por perto do colégio.

Rotina

Apesar da falta de estatísticas sobre assaltos na região, a direção do colégio tem notícias diárias de assaltos nas ruas que dão acesso ao CEP. Os locais mais visados pelos suspeitos são os pontos de ônibus da Rua Agostinho de Leão Junior e a estação-tubo Passeio Público. Mas casos também são corriqueiros em outras regiões próximas ao Círculo Militar. Nem mesmo a presença da Delegacia da Mulher na Rua Padre Antônio intimida os suspeitos.

De acordo com a professora Laureci Schmitz Rauth, diretora do turno da tarde do colégio, desde 2012 os casos são frequentes. Mas os casos aumentaram em quantidade e em periculosidade. "De uns dois meses para cá se agravou de uma forma alarmante. Os alunos saem da escola e são assaltados antes de chegar ao ponto de ônibus, ou no ponto do ônibus. São assaltados com faca, com revólver. Alguns alunos são agredidos e até já sofreram cortes com faca".

Com o aumento nos casos de roubo, a diretoria do colégio e os professores passaram a orientar os alunos para que não andem pelas ruas com celulares nas mãos ou com fones de ouvido, o que indica aos suspeitos que a vítima está com um aparelho. Mesmo assim muitos seguem sendo assaltados "Os ladrões no início pegavam só o celular, mas agora estão pegando as mochilas com tudo". Em alguns casos, alunos têm seus tênis e casacos levados nos crimes.

Nos arredores do colégio, acrescenta a diretora, os assaltantes não têm horário para agir. Nos últimos casos relatados pelos estudantes, muitos foram vítimas de assaltos no início da manhã, antes da entrada para as aulas, e à noite, na saída das aulas do último turno do dia.

Para a diretora, a falta de policiamento fica mais clara quando comparada ao número de alunos no colégio. São 5.010 estudantes nos três turnos, mas a circulação de alunos chega a sete mil, pois muitos fazem atividades extracurriculares e de contraturno em outros períodos. "Isso (o número de jovens) é maior que muitas cidades paranaenses", aponta.

Medidas

A frequência de assaltos diários fez com que o CEP pedisse uma reunião com o Batalhão de Patrulha Escolar de Curitiba. No encontro, ocorrido na primeira semana de junho, os policiais se comprometeram a realizar um trabalho mais ostensivo para coibir os casos de roubos e furtos. Segundo o tenente Nairo Cardoso da Silva, da agência de inteligência do BPEC, foi feito um reforço no policiamento na região.

Ao menos na última segunda-feira (9), o reforço no policiamento parece ter surtido efeito. Um morador de rua, identificado como Robson Marco de Oliveira, foi preso em flagrante no horário de entrada do turno da manhã do colégio. Suspeito de ter assaltado um estudante, ele foi barrado por seguranças da escola, que chamaram a Polícia Militar. Outros cinco alunos o reconheceram como autor de outros assaltos na região – um destes alunos teria sido vítima do suspeito na semana anterior. O suspeito estava sem armas e apenas coagia os alunos. À Polícia Civil ele alegou inocência, mas com ele foi encontrado um celular de uma das vítimas.

Apesar da prisão, outros assaltos foram registrados durante a semana. O tenente Nairo alertou que muitos casos não chegam à PM, que precisa ser avisada dos casos para registrar os boletins de ocorrência e chegar aos suspeitos. "É importante que eles façam o BO. E se a autoria for conhecida, que vão à delegacia reforçar a acusação contra os suspeitos", diz. Com os BOs, segundo o tenente, a PM pode fiscalizar melhor os locais onde ocorrem assaltos.

Segundo o tenente, a PM também realiza trabalhos de inteligência na região, que envolvem ações na tentativa de identificar quem são os assaltantes que agem naquela região e de onde eles vêm.

Uma maneira que o colégio encontrou de relatar os casos é realizar um levantamento interno. Segundo a professora Malu Rocha, assistente de gabinete do CEP, os alunos vão escrever o que aconteceu em cada um dos assaltos e repassar à direção.

Ela afirma que muitos alunos e pais de alunos não teriam tempo suficiente para fazer os boletins de ocorrência, por causa da burocracia da segurança pública. "Se a burocracia dificulta, nós vamos fazer um trabalho informal. Nós vamos criar uma estatística aqui", explica. Os relatos serão repassados para a PM.

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