O governo do Amazonas investiga se houve a participação de policiais e de facções criminosas na onda de violência que tomou conta de Manaus no último fim de semana. Em menos de três dias, 36 pessoas foram assassinadas na capital.

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Os crimes começaram na tarde de sexta-feira (17), quando um sargento da Polícia Militar, Afonso Camacho Dias, 44, foi morto em tentativa de assalto. Horas depois, um detento foi decapitado em uma cadeia da cidade.

Os homicídios em série começaram após os dois crimes, e continuaram até a tarde de segunda-feira (20). Das 36 pessoas mortas, 15 tinham antecedentes criminais, a maioria por furto e tráfico de drogas.

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Em 2011 e 2012, o município teve, em média, menos de três mortes por dia.

A polícia investiga se há alguma relação entre as mortes do sargento e do detento, mas acredita que os dois homicídios devem ter desencadeado a onda de violência.

“É possível que [as mortes] tenham sido uma represália fora do presídio em razão da disputa de organizações criminosas”, disse à Folha o secretário de Segurança Pública do Amazonas, Sérgio Fontes.

“O sargento foi morto ao fazer um bico, transportando dinheiro, sem relação com disputas de presídios. Mas é possível que policiais criminosos tenham usado este fato para cometer execuções”, completou Fontes.

O secretário diz que algumas das mortes foram isoladas, mas vê um padrão nos homicídios em série. “O padrão é estabelecido pelo tempo-local. Foram locais e horários próximos, então é provável que essas pessoas tenham sido as mesmas que cometerem os mesmos crimes”, disse.

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O Amazonas convive há anos com problemas em seu sistema carcerário, com unidades precárias e superlotadas, e tomadas por facções criminosas.

Segundo Fontes, que foi delegado da Polícia Federal em Manaus, três grupos disputam o poder na capital do Estado. “Tem a Família do Norte, que é apoiada pelo Comando Vermelho. E o PCC é inimigo dos dois grupos. Infelizmente essa moda de crime organizado está em todo o país”, diz.

Reforço

Nesta terça (21), Fontes gravou um vídeo em que desmente boatos que circulam em redes sociais -vários áudios e mensagens de alerta sobre uma possível guerra entre policiais e traficantes foram divulgados.

Cerca de 500 policiais militares reforçaram a segurança na cidade. Uma força-tarefa foi criada para investigar o caso, e envolve, além da Polícia Civil, o governo do Amazonas e o Ministério Público Estadual, por meio do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado).

Em outubro de 2014, durante a campanha eleitoral, gravações mostraram o então subsecretário do governador José Melo (Pros) negociando apoio eleitoral de uma facção criminosa em uma penitenciária.

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O então subsecretário de Justiça, major Carliomar Brandão, conversava com o traficante José Roberto Fernandes Barbosa, um dos líderes da Família do Norte. O traficante prometera até 100 mil votos para que Melo não os prejudicassem.

O governador, que acabou reeleito, exonerou o major do cargo, mas questionou a veracidade do áudio e negou que tivesse ordenado a negociação de apoio com a facção.