O casal de extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo, assassinados no último dia 24 em Nova Ipixuna, no Pará, foi alvejado por tiros de duas armas diferentes, segundo o delegado da Polícia Federal Marcelo Seila, que investiga o caso.
"As informações que temos até o momento é que eles foram mortos por tiros de espingarda calibre 12 e de revólver calibre 38. Ainda não recebi o laudo conclusivo da perícia", disse o delegado ao G1.
Seila, que investiga o caso a pedido da presidente DilmaRoussef, que determinou ao Ministério da Justiça que a PF apurasse as mortes, tem informações de que dois homens participaram do crime e fugiram em uma moto.
"Temos testemunhas que viram as duas pessoas em uma moto na região e nas proximidades. Eles fizeram uma emboscada para o casal quando eles saíram do assentamento em Nova Ipixuna. Armaram uma cabana com folhagens em uma estrada vicinal para não serem vistos e esperaram os ambientalistas passar por aí", diz o delegado.
"As informações que temos é que os ambientalistas recebiam ameaças em função das denúncias que faziam de desmatamento ilegal e grilagem. Eles tinham desavenças com supostos madeireiros e grileiros da região. Mas os dados ainda são amplos, não tenho um grupo ou um nome identificado ainda", afirma Seila.
A Delegacia de Conflitos Agrários da Polícia Civil de Marabá também apura os assassinatos.
Mudança
Pelo menos 17 parentes de José Cláudio e Maria deixaram o assentamento agroextrativista Praialta Piranheira, onde o casal morava, e mudaram-se para Marabá, com medo de novos ataques.
"Estamos com muito medo e recebemos a recomendação da polícia que seria bom a gente sair do local por um tempo. É algo ainda preliminar, não sabemos para onde iremos", diz Claudecir Ribeiro, de 35 anos, irmã de José Cláudio.
O grupo integra familiares próximos do casal e está abrigado na casa de parentes em Marabá, onde recebe apoio de psicólogos públicos, segundo Claudecir. "Ficamos muito temerosos de que algo poderia acontecer se a família permanecesse lá e foi melhor deixar o assentamento por um tempo. Está muito perigosa a situação", afirma ela.
Na segunda-feira (30), para conter os conflitos agrários na Região Norte do país, o governo anunciou que analisa uma lista com 125 nomes, feita pela Comissão Pastoral da Terra, de ambientalistas e trabalhadores rurais ameaçados de morte, de acordo com o secretário-executivo do Ministério da Justiça, Luiz Paulo Barreto.
Em menos de uma semana, quatro pessoas morerram na Região Norte, três delas no Pará e uma em Rondônia. No Pará, a morte de um agricultor, segundo a Polícia local, não tem relação com a morte de ambientalistas na mesma região. Há possibilidade de elo do agricultor com tráfico de drogas. No entanto, a Delegacia de Conflitos Agrários ainda investiga o caso antes de descartar que o assassinato tenha ocorrido por questão agrária.