Há um ano e meio na fila para adotar um filho, Ana Maria esperava ansiosamente que o telefone tocasse. E num dia de junho de 2003, quando isso aconteceu, a surpresa veio acompanhada de um desafio. Recebeu a proposta para adotar gêmeos, sendo um deles com problemas de saúde. Como havia participado de reuniões do grupo de adoções necessárias e não havia feito exigências quanto às características da criança (como gênero e idade), ela já estava com o espírito parcialmente preparado. Par­­cial­­mente porque, no fundo, nunca se está totalmente pronto, comenta ela.

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Para o casal Ana Maria e Inácio Slompo, os filhos nasceram já com 1 ano e 4 meses. Foi quando eles conheceram os gêmeos não idênticos Fábio e Fabiano* e no mesmo dia levaram os meninos para casa. Fabiano estava com uma roupinha cor-de-rosa – a única disponível no hospital onde estava havia meses internado. A má-formação em uma parte do cérebro foi responsável por um atraso no crescimento. O menino simplesmente não se desenvolvia. Com mais de 1 ano de idade ainda tinha o peso de um recém-nascido. Muitas pessoas não tinham esperança de que Fabiano sobrevivesse. "Mesmo que fosse para ele viver só um pouco com a gente, ainda assim a gente queria adotar ele. E o nosso sentimento é de que ele resistiria. Ele sempre foi um guerreiro", conta.

Ana Maria teve ainda mais vontade de adotar os meninos ao saber que foram o quarto casal a ser chamado para ficar com as crianças. "As pessoas têm uma ideia equivocada de que podem simplesmente escolher os filhos, só porque são adotados", diz. Ela pensou que simplesmente se tratava de uma criança que precisava de cuidados e que se tivesse um filho biológico com problemas de saúde não o abandonaria. "Claro que eu tive medo, mas foi muito pequeno diante da vontade que eu tinha de ser mãe deles", afirma.

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Depois da adoção, ela passou muito tempo em hospitais e consultórios. Foram diversos tratamentos e várias internações por causa da baixa imunidade de Fabiano. Ele foi se reabilitando, mas o processo foi lento. Aos 5 anos tinha apenas 9 quilos. "Mas não dá pra comparar com o início [na primeira visita]. Ele realmente precisava de uma família", acredita. Cada melhora no desenvolvimento do menino era uma vitória. Hoje Fabiano tem uma defasagem muito pequena em relação ao irmão gêmeo. "Queria que as pessoas soubessem que não é tão difícil assim", prega.

Há algum tempo Ana Maria descobriu que os meninos ti­­nham três irmãs – o processo de destituição do poder familiar saiu alguns anos depois da adoção dos gêmeos – e ficou inconsolável quando soube que elas haviam sido adotadas por uma família estrangeira. Ela queria reunir todos os irmãos. A mulher que fazia tratamento para fazer fertilização artificial enquanto esperava na fila para a adoção, de repente, de nenhum poderia saltar para a situação de mãe de cinco filhos. Não foi possível, mas Ana Maria não desistiu de dar uma irmãzinha para os gêmeos. Agora está em gestação a ideia de adotar uma menininha. Quem sabe, duas.

* nomes fictícios