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Indefinição deixa criança fora da escola no início do ano

Andriely Barbosa nunca pôs os pés numa escola, mas guarda com carinho em uma pasta o material escolar que foi comprado no início do ano. A diarista Sandra Mara Barbosa tentou uma vaga na rede municipal para a filha, mas não conseguiu porque ela só faz 6 anos em junho. Também não conseguiu vaga na creche em Ponta Grossa. Quando vai trabalhar, Sandra deixa a filha com a sogra. A menina já escreve o próprio nome, reconhece as letras, conta até o numeral 50 e não esconde a vontade de ir para a aula, aprender mais do que a irmã mais velha conseguiu ensinar. Agora, com a liminar, Sandra pretende buscar a vaga novamente.

Na outra ponta existem pais que não querem os filhos no ensino fundamental. A diretora da escola curitibana Brinquedo e Cia, Rosana Becker de Araújo Rolo, conta que algumas famílias optaram por deixar as crianças na educação infantil, acreditando que ainda era muito cedo para cobrar responsabilidade e impor um método de alfabetização. Ela defende um período de transição, com regras que começariam a valer para as crianças que estão entrando na educação infantil agora. Ela reconhece que a nova decisão judicial prejudica a escola. "Mas não vou quebrar porque vou perder uma turma", declara.

A possibilidade de atender também as demandas das escolas que oferecem exclusivamente a educação infantil pautou uma reunião na noite de ontem. Preocupadas com a perda de alunos para estabelecimentos maiores, que ofertam ensino fundamental, as pré-escolas chegam a pensar em um contra-ataque judicial.

Pegas no contrapé, já que estavam se preparando para a implantação do ciclo de 9 anos somente em 2008, muitas cidades devem enfrentar um caos na rede de educação, prevê o presidente da Associação dos Municípios do Paraná (AMP), Luiz Sorvos. "É um canhão em cima das prefeituras", define. A estimativa inicial é de que vão faltar salas de aula, professores e principalmente propostas pedagógicas para atender a nova demanda.

Além disso, a situação precisaria ser resolvida urgentemente. "Teria que ir para a aula já amanhã", avisa o presidente do Conselho Estadual do Fundo Nacional de Desenvolvimento do Ensino Fundamental, Jacir Bombonato Machado. É que o ensino regular, ao contrário da educação infantil, exige o cumprimento de um calendário escolar, com dias letivos a serem cumpridos. Para não perder o ano, as escolas municipais – que pela Lei de Diretrizes e Bases (LDB) devem ofertar o ensino básico – deveriam disponibilizar vagas imediatamente.

"Decisão judicial não se discute, se cumpre. Mas isso causará um transtorno muito grande nas prefeituras", salienta Sorvos, que estima que mais de 70% das cidades não estariam preparadas para a nova oferta.

Em alguns municípios, como Curitiba, já há a oferta de vagas na pré-escola e a adaptação será mais tranqüila. Machado conta que hoje existem 180 mil alunos nas redes municipais de educação infantil e que o número não atinge todo o público porque a oferta não é obrigatória. Já no ensino básico, de 1.ª a 4.ª série, as prefeituras respondem por 735 mil estudantes. Ainda estão na rede estadual de ensino fundamental cerca de 30 mil alunos nesta faixa etária.

O presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação no Paraná, Carlos Eduardo Sanches, diz acreditar que a decisão judicial pode ser benéfica para algumas cidades. Secretário de Educação em Castro, ele precisa manter turmas pequenas de 1.º ano do novo ciclo para crianças que completaram 6 anos até 1.º de março. Com a liminar, poderá agrupar a essas turmas as crianças que estavam no Jardim 3.

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