Oito migrantes angolanos, deficientes visuais, que vivem em Curitiba desde 2001 estão ameaçados de despejo. Eles moram em um sobrado, no bairro Mercês, cujo aluguel era pago pelo Consulado de Angola. O órgão, que pressionava o grupo a voltar ao país africano, suspendeu o contrato de locação. Na quinta-feira (19), o grupo foi informado pela imobiliária de que teria de deixar a casa no fim de semana. Apesar do ultimato, permaneceram. Não sabem o que fazer ou para onde ir.
“Ficamos de mãos atadas. Ninguém consegue se mudar em três dias. Ainda mais nós”, resume Prudêncio Tumbika. “A moça da imobiliária simplesmente disse que a obrigação dela era com o governo de Angola, não conosco. Por isso, a gente teria que sair por bem ou por mal”, acrescenta Wilson Madeira.
Os jovens migraram ao Brasil no início da década passada, com idades entre 7 e 10 anos, por intermédio de uma ONG angolana, a Fundação Eduardo Santos (Fesa). Eles já eram cegos e fugiam das consequências de uma guerra civil. Em Curitiba, foram educados e formaram o grupo “Cantores de Angola”. Hoje, frequentam a faculdade e lutam para concluí-la.
A angústia dos angolanos começou em novembro de 2014, quando o Consulado passou a querer repatriá-los a contragosto. Alguns, aliás, até perderam o contato com os parentes: se voltarem, não saberão nem para onde ir.
Desde então, Angola deixou de pagar as bolsas de auxílio (de pouco mais de R$ 1 mil) com a qual se mantinham. Os jovens passaram a contar com a solidariedade para viver. Só não passaram fome graças à ajuda de amigos e de doações. “Temos ganhado cestas-básicas, roupas, frutas. A Uninter [faculdade em que a maioria estuda] está ajudando muito também. O Consulado cortou tudo. Até plano de saúde. Se não fossem essas ajudas, não sei o que seria”, revela Tumbika.
Até fevereiro, o jovens se dividiam em duas casas. Entretanto, tiveram de deixar uma delas, no Bairro Alto. “Não pudemos nem retirar fogão e geladeira. Coisas que tínhamos conseguido a muito custo”, dizTumbika. Desde então, os oito estão ficando no sobrado no Mercês. Outras duas angolanas que vieram com o grupo se casaram e hoje moram com seus maridos.