Se para um curitibano suportar um calor perto dos 30°C é uma tarefa complicada, imagine para os animais do Zoológico Municipal de Curitiba. Neste verão, a equipe de nutrição do parque montou uma estratégia diferenciada: nas refeições, além do cardápio tradicional, os bichos recebem desde picolés de frutas a blocos congelados de sangue com pedaços de carne para se refrescar.
O processo é coordenado pelo zootecnista Carlos Frederico Grubhofer, que faz uma análise diária com a sua equipe da dieta dos animais. “O nosso principal objetivo é sempre manter o maior conforto térmico deles. Neste período do ano, fazemos um enriquecimento alimentar, em que o animal tenha um complemento nos nutrientes, mas também consiga manter uma temperatura estável em seu organismo”, explica.
Aos dois leões do zoo, por exemplo, são dados sorvetes formados por água e sangue, com lascas de carne para temperar. Isso tudo para complementar os 6 quilos de carne diários, que é a alimentação padrão dos felinos. A estratégia é mesma utilizada para onças, pumas e outros felinos de pequeno porte. “Escondemos os pedaços pela jaula para causar também um miniestresse neles, como se realmente estivessem caçando o alimento, imitando o seu habitat natural”.
O chimpanzé Bob, uma das atrações do parque, também possui um cardápio diferenciado no calor e aproveita para brincar: ele gosta agitar e equilibrar os picolés com pedaços de mamão, maçã e banana, e também os sorvetes de melão com outras frutas. O urso, os macacos-aranha, os muriquis e outros bichanos também ganham o congelado gigante para completar a dieta.
Além da alimentação, Grubhofer explica que há outras técnicas para adaptar os bichos ao ambiente. Nas áreas das aves, jatos de água são lançados ao ar nos dias de extremo calor, principalmente para gerar umidade. “A sorte é que neste ano as chuvas estão mais constantes, então não precisamos utilizar desta técnica ainda”, afirma o zootecnista.
Maiores riscos da estação
O calor, ao contrário do que a maioria pensa, é um dos menores males do verão para os bichos. O maior risco está dentro das próprias jaulas: as brincadeiras dos animais que podem gerar ferimentos. “Com as feridas abertas, aumenta a criação e a proliferação de mosquitos pelo zoológico. Cervos, lhamas e as leoas são os que precisamos de atenção redobrada, com vigilância constante”, detalha Grubhofer, cuja equipe faz acompanhamento diário das 130 espécies.
No caso dos ursos e outros animais de pelagem mais grossa, o zootecnista garante que as áreas de sombra são o suficiente para equilibrar a temperatura corporal. “Priorizamos cavernas com correntes de ar e também o uso de piscinas, em que eles adoram utilizar para se mostrar ao público”, brinca o chefe da nutrição.
Outra grande preocupação neste período de férias escolares é o volume de visitação. Os animais costumam ficar agitados em dias de grande público. Entre os dias 1º e 15 de janeiro, 50 mil pessoas já visitaram o local – número que é o total registrado em um mês fora da temporada.
“Nosso maior trabalho é manter os animais em suas condições naturais, como se fossem seus habitats de origem. Eles aqui não são humanizados, não queremos isso. Ao surgir uma oportunidade de reintegração em seus meios naturais, queremos que eles consigam se condicionar, manter sua alimentação e sobreviver”, finaliza Grubhofer.