Em uma ação no bairro Tatuquara, a Prefeitura de Curitiba apreendeu 65 animais, entre aves, cabras, cavalos e vacas, os quais estavam sendo criados e comercializados de forma ilegal. A ação foi realizada na última terça-feira (31) e, neste momento, os animais estão em quarentena, de onde podem sair para serem abatidos. Um grupo que trabalha pela proteção animal se voluntariou para adotar os bichos.
Os animais eram criados por dez famílias que moram irregularmente na Reserva do Bugio, uma Área de Proteção Ambiental do Rio Barigui, de acordo com a prefeitura.
Segundo o veterinário e diretor do departamento de pesquisa e conservação da fauna da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SMMA), Eros de Souza, o abate é procedimento comum e visa a proteção da saúde tanto de outros animais quanto das pessoas. Além deles,130 porcos que ainda estão no local onde os animais eram criados devem ir para o abate.
“Não existe a comprovação de vacinação desses animais contra febre aftosa e isso pode afetar tanto a saúde do rebanho nacional, quanto a dos outros animais e humanos. [Também não se sabe se foram imunizados] contra a brucelose, que é transmitida para o homem por animais”, explica Souza. Outras ameaças seriam tuberculose bovina, contaminação por metais pesados ou outros tipos de contaminação, já que os bichos eram criados em meio ao lixo, inclusive hospitalar.
Conforme o veterinário, devido a esse risco, a presença de animais de produção na zona urbana infringe o Código Sanitário do Estado, assim como o transporte desses animais sem autorização prévia da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), que regula a sanidade da produção agropecuária no estado. “Se houver alguma negligência por parte da agência reguladora ou da prefeitura em transferir esses animais de um lugar para outro – sabendo que eles não têm origem conhecida e vacinação adequada –, podemos prejudicar também o comércio intermunicipal, interestadual”, complementa.
O próprio abate seguirá um regime especial para evitar riscos sanitários. Os abatedouros serão autorizados a realizá-lo pelo estado, mas só receberão os animais com a guia de transporte emitida pela Adapar. No dia, o estabelecimento não poderá abater qualquer outro animal: “Eles farão esses abates, encerrarão a produção e farão a higienização do local para voltar à produção normal no dia seguinte”, explica o veterinário. Depois de mortos, os bichos serão incinerados.
Adoção
O Grupo Força Animal quer adotar os 65 animais e fez o pedido para a Rede de Proteção Animal, da Prefeitura de Curitiba. Segundo a presidente da entidade, Danielly Savi, o grupo tem uma sede na Região Metropolitana e pode receber os bichos.
Para o Força Animal, se os animais não apresentarem zoonoses após o período da quarentena, não há motivo para serem abatidos. “Temos estrutura para recebê-los. Não podemos aceitar que eles sejam sacrificados”, afirmou.
Danielly destacou ainda que o grupo assumiu o compromisso de não abater os bichos para o consumo – uma das preocupações das autoridades sanitárias. “Isso é contra a política do nosso grupo. O que queremos é dar qualidade de vida para animais que já sofreram tanto”, disse a presidente da entidade.
Mas, conforme Souza, por se tratar de animais de produção, a questão precisa ser tratada com a Adapar – e não com a Rede de Proteção Animal. O diretor do departamento de pesquisa e conservação da fauna da Secretaria Municipal do Meio Ambiente afirmou que o grupo precisa garantir que os animais não serão abatidos, se cadastrar na agência reguladora – a Adapar –, emitir guias de transporte e se dispor a ser fiscalizado.
Cavalos
O processo só é mais simples no caso dos cavalos, que poderão ser adotados após o período de quarentena no Centro de Controle de Zoonoses. “Como não há consumo de carne equínea no Brasil, isso não afetaria a saúde pública, então os cavalos poderão ser doados, como é feito constantemente em Curitiba, porque apreendemos cavalos quase que diariamente”, diz o veterinário da SMMA.
Assim como os cavalos, as vacas apreendidas também estão em quarentena no Centro de Controle de Zoonoses, enquanto as aves e as cabras estão em áreas de isolamento do Zoológico. A previsão é que a quarentena dure em torno de 15 dias, tempo suficiente, segundo Souza, para resolver junto com a Adapar e o Ministério Público o destino dos bichos.