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Pesquisadores fazem um alerta: os animais selvagens estão desaparecendo do Parque Nacional do Iguaçu, que fica na fronteira entre Brasil e Argentina. Especialistas tentam acompanhar o desenvolvimento de algumas espécies e enfrentam os desafios para atravessar rios e a mata da área. Já foram instaladas câmeras para monitorar os bichos, mas muitos equipamentos foram destruídos pelos caçadores.

Alguns caçadores que entram no Parque Nacional do Iguaçu são do bem, como os pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) que estudam o comportamento do veado-mateiro, uma das espécies mais caçadas pelos invasores. Nas mãos, os pesquisadores levam armas para capturar o bicho vivo, que vai ser examinado e solto novamente na natureza.

A equipe do professor Maurício Barbanti estuda essa espécie há mais de 20 anos. São animais delicados. Quando capturados pela rede, precisam ser imobilizados e anestesiados rapidamente para que não se machuquem. O veado-mateiro passa por um exame completo: são coletadas amostras de pêlo, de pele e de sangue. O material segue para o laboratório, onde é analisado e catalogado num banco de células. Pesquisas

Segundo os pesquisadores, os exames de DNA mostraram que o veado-mateiro do Paraná e o da Amazônia talvez não sejam da mesma espécie. "São cinco pares, seis pares cromossômicos de diferença. E isso certamente vai gerar um híbrido estéril, o que comprova que esses bichos realmente são espécies distintas", explica Maurício Barbanti.

A prova final da existência da "nova espécie" virá quando os filhotes atingirem a idade adulta, em pouco mais de seis meses. Eles são resultado do cruzamento de animais do Paraná e de Rondônia.

Para o mateiro do Paraná, a comprovação acenderá um alerta vermelho. As áreas onde ele é encontrado são poucas e isoladas e o nome da provável nova espécie vai direto para a lista dos animais ameaçados de extinção. Caça

O agricultor Eduardo Guilhardi, vizinho do parque há 46 anos, diz que ainda há caça predatória nas redondezas. Ele chegou à região quando as lavouras ainda eram mata e os animais, abundantes. "Os porcos entravam na capoeira para comer milho. Eram mansos", lembra.

Agora, o porco-do-mato, ou queixada, já pode ter desaparecido da área. Ele costumava viver em bandos e era facilmente localizado pelos caçadores. Há 10 anos, porém, não há qualquer registro da presença da espécie na região. O sumiço do queixada pode ter diminuído a quantidade de comida para a onça. Isso explicaria por que algumas atacaram rebanhos vizinhos.

Em uma fazenda, um bezerro e três ovelhas foram mortos. O caseiro José Alves da Cruz diz que reconheceu o rastro do animal. "No outro dia, ela veio de novo. Mas aí eu já estava cuidando para que não atacasse. Dei uns gritos, e ela desceu. Nunca mais voltou."Em busca de vestígios

Apesar de se saber dos ataques, avistar uma onça-pintada no Parque Nacional do Iguaçu está ficando cada vez mais difícil. Os biólogos Anne Sophie Bertrand e Alcides Rinaldi passam os dias andando por trilhas tentando localizar vestígios de animais. Anne é francesa e Rinaldi nasceu em Foz do Iguaçu. Juntos, investigam os efeitos da presença do homem no comportamento da onça-parda, também chamada de puma. Mas acabam estudando os outros animais do parque. Descobriram que capivaras, veados e até mesmo as onças-pardas continuam aparecendo nas regiões onde há turistas. Lugares onde nunca viram uma onça-pintada.

Para flagrar os bichos, o casal monta armadilhas fotográficas. Um sensor dispara a câmera sempre que um animal passa diante do equipamento. As câmeras ajudam a confirmar a presença das espécies, saber por onde elas costumam andar e conhecer melhor o comportamento delas. Mas com o passar do tempo, os pesquisadores começaram a enfrentar um problema. Algumas foram roubadas ou destruídas pelos caçadores. "Quando estão no meio do mato, os caçadores não querem ser vistos. Daí, eles têm medo de aparecer na foto e geralmente acabam roubando ou estragando as câmeras", conta Anne. Espécies registradas

Em dois anos de trabalho, a pesquisa conseguiu aumentar de 45 para 98 o número de espécies de mamíferos registradas no parque. "Mesmo sendo uma das unidades de conservação mais visitadas no Brasil, o parque ainda é pouco conhecido porque pouco trabalho de campo foi feito nele", diz Alcides.

"O tempo vai se esgotando e precisamos de muito esforço para conseguir conservar isso e manejar o que precisa ser manejado, para que não seja estragado devido aos conflitos. O valor ecológico do parque é uma coisa única", ressalta Anne.

Um tempo que, para a onça-pintada, já pode ter se esgotado. Não há um levantamento atualizado, mas os pesquisadores afirmam que o número de onças vivendo na reserva já é menor do que o necessário para a manutenção da espécie na região. "Se não houver uma conscientização da população do entorno e, principalmente, uma redução imediata ou uma eliminação da pressão de caça e da pressão do homem sobre essa espécie, ela estará realmente ameaçada", alerta o veterinário de Itaipu Vanderlei de Moraes.

Visitas

Os moradores da região já começam a participar dos projetos de preservação. As crianças, em grupos, visitam o parque e recebem preciosas informações sobre o local. "Estamos entrando numa área de Patrimônio Natural da Humanidade, na casa dos animais", anuncia o monitor José dos Reis.

A trilha que o grupo segue fica no município de Céu Azul. A idéia é simples: conhecendo o que existe no lugar, é mais fácil ajudar a proteger. Na trilha, não é comum encontrar os bichos, que se escondem quando aparece muita gente. Mas tem bastante coisa para ver, como nascentes de água pura.

O que as crianças vêem, ouvem e tocam fica gravado na memória. O que fica dessa lição? "Se cortarmos todas as árvores, podemos até morrer", diz Gustavo Nepomuceno, de 9 anos. "O parque é metade de nossas vidas, nós precisamos dele", completa Tássia Sacks, de 9 anos.

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