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Cidade em transe

Anita, Batel e Mateus sob suspeita

Assista à reportagem em vídeo | TV Globo
Assista à reportagem em vídeo (Foto: TV Globo)

Três importantes ruas de Curitiba estão em observação. Uma é a elegante Avenida do Batel. Outra, a sinuosa Mateus Leme. Por fim, a disputada, palmo a palmo pelos automóveis, Anita Garibaldi. Em comum, as três avenidas têm o fato de serem antigos caminhos do Paraná Tradicional, aquele que viu passar tropeiros, ervateiros e imigrantes. Não é tudo. Além de antigas à beça, essas vias se tornaram uma raridade no trânsito de Curitiba: são duas mãos. É o que basta para que se estabeleça o fio da suspeita: hora ou outra devem ser rendidas ao sistema binário. Resta saber a que custo.

A questão parece tão, digamos, bizantina quanto discutir se a Pracinha do Batel vai ou não ser partida ao meio. Mas não é difícil encontrar pelo menos duas dúzias de curitibanos que deitariam na faixa do sinaleiro para impedir que Anita, Mateus e Batel fossem transformadas "numa qualquer". Vias de mão-única tendem a se tornar vias rápidas, o que parece não combinar muito com caminhos que guardam a memória e, com sorte, algum casario que assistiu ao comboio das carroças nos tempos em que se chamavam Estrada do Mato Grosso ou Caminho do Açungui.

Noves fora, a questão, se não é séria, fica sendo. A velocidade é inimiga do olhar e nada para olhar para ruas que estão para Curitiba como a Avenida Paulista está para São Paulo. A discussão, contudo, pode não sobreviver às urgências de uma cidade que bate o gongo do 1 milhão de automóveis e precisa urgente que a classe média deixe o carro na garagem e procure o ponto de ônibus mais próximo. Hoje, cerca de 20% da frota sai às ruas todos os dias – ou seja, 200 mil veículos. Pelos cálculos da Urbs, basta cair uma chuva para que o índice suba para 40%. É nessa hora fatal que se pede aos céus que pelo menos mais uma dezena de ruas virem binários e cinco linhas de metrô.

Todos esses clamores fazem eco tanto na Urbs quanto no Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba, o Ippuc. E nos últimos anos o Ippuc já se debruçou mais de uma vez sobre o difícil caso Anita-Mateus-Batel. No momento, tranqüiliza – se é que a palavra serve para todo mundo – não há binários em vista para uma delas. Estão em estudo vagaroso, tanto quanto o rodízio de carros – entre outras saídas para que os veículos não se tornem protagonistas da Guerra dos Mundos.

De acordo com o diretor de Planejamento do Ippuc, Ricardo Antônio Bindo, a Batel – com menos de um quilômetro de extensão – permanece como está. Indiretamente ela já forma um binário com a Avenida Visconde de Guarapuava. E parece muito longe de ser resolvido o problema com a "rua de baixo", a D. Pedro II, na qual há um condomínio e um bosque impedindo a extensão da via. A Anita Garibaldi, de 12 quilômetros, pode ganhar seu binário no dia em que os trilhos de trem forem desocupados. Quanto aos seis longos e emocionantes quilômetros da Mateus Leme, já encontraram sua cara-metade – a Nilo Peçanha. O sonho é antigo, mas esbarra no fato de que as duas vias vão se distanciando uma da outra num raio de 600 metros, o que é uma características dos velhos caminhos: eles não seguem em linha reta, mas pelo traçado mais fácil, afinal, em tempos idos não havia 4 X 4. Logo – Nilo com Mateus não rola, pois quem anda de ônibus ia ter de andar muito entre um ponto e outro. A outra alternativa seria passar por cima do Rio Belém, idéia que os tempos ecologicamente desesperados rejeitam.

Eis a questão. À acusação de que os binários só servem para trazer mais carros às ruas, o Ippuc se defende lembrando que todos os projetos visam a facilitar o transporte coletivo. Em tese, a cada binário que sai da prancheta, o trânsito fica mais rápido e a população tem mais incentivo para entrar na estação-tubo. O problema é que não se descobriu ainda que milagre pode fazer com que a população mude de hábitos.

Na Urbs, o sentimento é comum com o Ippuc. A engenheira Guacira Civolani, gerente de Operações de Trânsito, entende que a responsabilidade pela diminuição de carros recaiu sob o poder público, como se escolas, empresas e demais instituições não tivessem nenhuma obrigação com o assunto. "A gente se sente muito solitário nessa luta", diz Guacira, sobre o tema que mobiliza a opinião pública curitibana. Quem diria.

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