Quem é que vai pagar a conta dos dois anos extras que o aluno de medicina ficará atrelado à universidade enquanto atua no Sistema Único de Saúde (SUS)? Apesar de o Ministério da Educação (MEC) assegurar que as escolas não serão "oneradas", a situação ainda assusta as instituições particulares. "Pode ser um problema se os alunos ficarem isentos de mensalidade nos últimos dois anos. Porque eles não estarão sozinhos no SUS, a universidade terá de dar suporte acadêmico, tutoria", afirma o diretor da Faculdade de Medicina de Petrópolis (RJ), Paulo Cesar Guimarães.
Ele especula que uma forma de contrapartida do governo pode ser a isenção fiscal. Mas adianta que não será suficiente. "O funcionamento das instituições, principalmente das que investem em curso de ponta, depende do repasse de dinheiro, que vem das mensalidades."
Menos candidatos
Guimarães afirma acreditar ainda que a decisão da administração federal pode fazer com que diminua o número de interessados pela carreira. Somado com o tempo de residência, um médico não entraria no mercado de trabalho com menos de 30 anos. "Em vez de aumentar o número de médicos, pode causar déficit ainda maior. Quem, aos 18 anos quer uma profissão em que levará mais de uma década para conseguir seu espaço?"
A coordenadora da Pós-Graduação da Fundação Getulio Vargas (FGV) para profissionais da saúde, Libânia Paes, concorda. "A proposta do governo massacra um período que seria de extrema produtividade do ser humano. Os dois anos só vão atrasar a formatura e fazer com que diminua o interesse pela área."
O coordenador de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), Jefferson Braga, alerta para a falta de informações. "Levar o médico jovem ao interior implica tutoria e estrutura. Quem paga a conta?" Procurado, o MEC afirmou que todo o apoio será dado às instituições, sem apresentar mais detalhes.