Aos 12 anos e cursando o sexto ano da escola, um garoto passa por provações antecipadas de sua masculinidade: joga bola, forma grupos de amigos, paquera. "Mas se não dorme no acampamento de férias por não conseguir ficar longe da mãe, vai ser tachado, e isso é muito sério pra ele’’, diz Fernando Asbarh, psiquiatra e coordenador de um grupo de estudos sobre transtornos de ansiedade no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP).

CARREGANDO :)

"É quando a ansiedade passa a prejudicar a vida da criança que delimitamos o transtorno’’, diz Asbarh. Segundo o estudo, cerca de 5% de crianças e jovens sofrem de algum transtorno do tipo, com sintomas de ansiedade e preocupações excessivas para a idade, que persistem por mais de seis meses. Sintomas que podem culminar em crises de choro e pânico ou se converter em efeitos físicos, como insônia, tremores, diarréia e taquicardia.

O menino que não dormia longe da mãe está em tratamento, diagnosticado com Transtorno de Ansiedade de Separação (TAS) e fobia específica; no caso dele, fobia de prova.

Publicidade

"Na noite anterior não dormia, às vezes vomitava, não ia à escola’’, diz Asbahr. Muitas vezes, a mãe tinha que ir buscá-lo. As notas caíram e o complexo de inferioridade, aumentou. Há um ano fazendo terapia e tomando antidepressivo (já em fase de redução da dose), suas notas melhoraram e ele conseguiu, pela primeira vez, passar férias no acampamento.

No caso do Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), um dos mais comuns, "a criança é incapaz de relaxar um segundo’’ e tem reações desproporcionais de medo e ansiedade no convívio social. "Se não for tratado, pode se tornar crônico e prejudicar o desempenho escolar e a vida social’’, diz Asbarh.

Mas há uma série de outros transtornos com sintomas semelhantes, como a fobia social; as fobias específicas, como medo de elevador, de inseto, de prova escolar; e o transtorno do pânico, menos comum em crianças e adolescentes que em jovens, mas que também traz sintomas de ansiedade e pode vir junto das fobias específicas.

"O que importa não é o nome que se dá, mas como podemos mitigar esses sintomas prejudiciais’’, afirma Asbarh. Ele diz que é comum que os traços de ansiedade se desenvolvam na infância ou adolescência. Por isso os pais deveriam estar atentos ao que é uma personalidade difícil ou "birra’’ e o que pode ser um problema clínico. "Na dúvida, melhor ter a avaliação psiquiátrica’’, afirma.