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Última conversa

Antes de atirar, seqüestrador pede para a polícia invadir apartamento

Em sua última conversa por telefone com o negociador da Polícia Militar, o seqüestrador Lindemberg Alves Fernandes, de 22 anos, pediu diversas vezes para que a polícia invadisse o apartamento onde ele manteve a ex-namorada Eloá Pimentel e a amiga dela, Nayara Vieira, as duas de 15 anos, reféns. Todas as ligações para o seqüestrador foram gravadas pela polícia, que divulgou esse último diálogo na noite deste sábado. O negociador, capitão Adriano Giovaninni, sentiu que aquela conversa era uma despedida e afirma que avisou o restante da equipe.

- Quero que você invade (sic), falei pra invadir. Ó cara, fala que tá cansado e sai do comando. Deixa outro cara vir e invadir pra responsa (responsabilidade) cair em cima dele, não em você. Acaba com isso tudo, mano. Deixa a vizinhança tocar a vida aí - afirmou Alves.

A frase ocorreu minutos antes dele atirar nas vítimas. Alves se dizia cansado e sem vontade de viver.

- Não tô enxergando nada, nem ninguém. Sinto uma sensação só de vingança. Eu não tenho mais sentimento nenhum. Sou um cara sem sentimento, um cara que tá vivendo sem coração. Manda invadir. Tô cansado psicologicamente. Vou acabar com isso tudo. Tá chegando ao fim - afirmou.

Um dos momentos mais tensos da conversa entre o negociador e Lindemberg foi quando ele demonstrou estar confuso.

- Eu tô vendo um anjinho de um lado que fala não faz isso e, do outro lado, um diabinho que fala faz, não deixa passar não. Tem um anjinho. E tem um diabinho aqui. O diabinho tá falando para eu fazer. Tá tudo confuso. Vão invadir aqui e eu vou acabar com tudo - afirmou Alves.

Em outro trecho da conversa, ele afirma que ainda tem muita coisa para "desenrolar" com Eloá, que te vai "arrancar até o último dela". Depois afirma que a ex-namorada já está com outro.

- Não tenho mais expectativa de vida mais não. Eu tinha sonho de ter uma família, uma casa, um carro, de ser feliz. Hoje não tenho mais nada. Não vejo mais nada... Eu gostava dela e apareceu o Iago na vida dela e me fez olhar a vida de outra maneira. Eu não tenho vontade de ter mais ninguém, nem vontade de ter mais nem a Eloá. Eu tentava sair e me divertir, mas não dava - contou Alves.

No último trecho da conversa, Giovaninni pede que Alves durma um pouco para descansar.

- Eu tô ficando louco aqui dentro, mano - responde Alves.

- É que você está trancado aí dentro. Você precisa respirar - diz o negociador.

- Eu não quero olhar para a cara dessa menina aqui. Eu só quero pensar, quero pensar...Eu quero ficar sozinho, não quero ver ninguém - disse antes de desligar.

Cerca de meia hora depois, Alves atirou nas duas meninas. Eloá foi baleada na cabeça e na virilha. Desde a manhã de sábado (18), ela não apresentava nenhuma atividade neurológica e estava em coma irreversível. Por volta de 23h30, exames confirmaram a morte cerebral da adolescente.

A equipe médica do Centro Hospitalar de Santo André, onde Eloá está internada desde 19h de sexta-feira, dizia já durante o dia que, mesmo que sobrevivesse, ela passaria a vida em coma vegetativo. A direção do hospital autorizou a permanência dos pais e dos irmãos de Eloá na UTI. Eles passaram o dia em um sofá, próximo à cama dela.

- As chances dela são pequenas - dizia Marco Túlio Setti, um dos neurocirurgiões que operou a estudante, que explicou que a bala entrou pela testa e atingiu o cerebelo da jovem, região responsável pelas atividades motoras.

Já Nayara se recupera bem e já respira sem a ajuda de aparelhos. Ela levou um tiro na face, mas não terá qualquer seqüela, segundo os médicos. Até receber alta do hospital, o que pode ocorrer em até 10 dias, está proibida pelos médicos de falar à polícia sobre o caso.

Ex-namorado de Eloá, Alves invadiu a casa da jovem às 13h30 da última segunda-feira, armado com revólver calibre 32. Ela fazia um trabalho de escola com Nayara e outros dois garotos. Os rapazes foram libertados ainda na noite de segunda e, Nayara, 36 horas depois. Mas adolescente, chamada para ajudar na negociações, acabou voltando ao apartamento horas depois.

A primeira coisa que o seqüestrador fez ao invadir a casa foi dar um tiro no computador da ex-namorada. De acordo com amigas dela, Alves ficou transtornado por Eloá trocar mensagens com amigos no site de relacionamentos Orkut. Ele está preso no Centro de Detenção Provisória de Pinheiros, na Grande São Paulo. . Segundo a polícia, Alves praticava pequenos furtos, mas nunca havia sido preso.

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