Recife – A agente comunitária de saúde Rozinete Almeida Serrão, de 51 anos, deu à luz ontem à tarde os gêmeos Antônio Bento e Vítor Gabriel em uma maternidade particular do Recife. Os bebês, gestados no útero da avó-mãe, nasceram de cesariana. Todos passam bem. "Sou uma mulher realizada", afirmou Michelle, a mãe dos bebês que se desenvolveram no útero da sua mãe, Rozinete, avó das crianças.

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Abraçada ao marido, Antônio de Brito, ela não cansava de olhar os filhos no berçário, pouco depois do nascimento. Com uma medalha de Nossa Senhora das Graças presa à camisa, Brito mal conseguia se expressar. "Estou em êxtase", resumiu.

Antônio Bento foi o primeiro a nascer, às 14h32, medindo 46 centímetros e pesando 2,410 quilos. Vítor Gabriel veio em seguida, às 14h33, com 47,5 centímetros e 2,930 quilos. O nascimento foi acompanhado por Michelle e uma equipe de seis médicos – três obstetras, dois pediatras e um anestesista. O parto foi antecipado – a previsão era 12 de outubro – porque Rozinete apresentou picos de pressão. Com os bebês desenvolvidos e com 38 semanas de gestação, o especialista em reprodução humana, Cláudio Leal Ribeiro, preferiu não arriscar.

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O casal tentou engravidar, sem sucesso, durante quatro anos. Até que a mãe de Michelle aceitou a empreitada de emprestar a barriga para o desenvolvimento dos embriões fertilizados in vitro – com espermatozóides e óvulos dos pais – e implantados no útero dela. Segundo Cláudio Leal Ribeiro, não há registro, no mundo, de gravidez gemelar de avó "mãe de aluguel".

O ineditismo chamou a atenção da imprensa e várias entrevistas coletivas se sucederam ao nascimento. Os bebês deram a primeira mamada cerca de 40 minutos depois do nascimento, antes de irem para o berçário. Com boa capacidade respiratória, não tiveram necessidade de incubadora. A recomendação médica é de que a avó os amamente durante um mês. Em seguida, Michelle, que fez tratamento hormonal e já tem leite nos seios, a substitua na empreitada.

Gêmeos não idênticos, Michelle arriscou um palpite já com base no de amigos e familiares: Antônio Bento parece com ela, e Vítor Gabriel é a cara do pai. "Estou ainda mais apaixonada, eles não são fofos? Olha que lindos!", dizia a mãe mostrando os bebês de pele cor-de-rosa, fralda e chapéu azul. Rozinete e os netos têm alta prevista para hoje.

Certidão

Mas, nos registros de nascimento, não se sabe ainda qual será o nome da mãe: se o de Rozinete ou o de Michelle. Pelo Direito tradicional brasileiro, a mãe é a parturiente, portanto Rozinete, que, geneticamente, é a avó dos bebês. De acordo com a doutora em Direito das Relações Sociais pela UFPR e professora de Direito Civil da PUCPR, Jussara Maria Leal de Meirelles, o Código Civil ainda não prevê a gestação de substituição. "Existem algumas decisões isoladas no Brasil no sentido de registrar no nome de quem moveu o projeto de parentalidade, que seria a titular do óvulo", explica a professora.

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"Eu imagino que o oficial do cartório suscite dúvida, não registre os bebês, e o juiz terá de decidir quem é a mãe legalmente", diz Jussara.