| Foto: JONATHAN CAMPOS/GAZETA DO POVO

Cientistas descobriram uma ameaça potencial para o clima da Terra, à espreita em um lugar escuro e malcheiroso: o esterco do gado tratado com antibióticos, segundo um estudo publicado nesta quarta-feira (25) na revista britânica de biologia Proceedings of the Royal Society B.

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Análises de laboratório revelaram que as fezes de animais que receberam um antibiótico comum emitiam mais que o dobro de metano, um gás do efeito estufa, do que as das vacas que não tinham sido tratadas com o remédio.

A descoberta põe em evidência mais um perigo do uso rotineiro de antibióticos na pecuária, uma prática que já criou uma onda de resistência aos medicamentos nos seres humanos.

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“Os antibióticos são amplamente utilizados na pecuária para promover o crescimento e para tratar ou prevenir doenças do gado, mas eles podem ter grandes consequências para a saúde humana e ambiental”, afirmam os autores no estudo.

“Nós oferecemos a primeira demonstração de que os antibióticos podem aumentar as emissões de metano do esterco”, acrescenta o artigo.

A equipe coletou fezes de dez vacas – cinco que tinham recebido durante três dias um antibiótico comum de amplo espectro chamado tetraciclina, e cinco que não tinham recebido nenhum remédio.

Posteriormente, eles dividiram o esterco em pedaços menores, que colocaram em baldes e levaram ao campo para medir e comparar os fluxos de gases emitidos, como o dióxido de carbono, o metano e o óxido nitroso.

Os pesquisadores observaram que o tratamento com antibióticos “aumentou consistentemente as emissões de metano” em até 1,8 vezes.

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A pecuária é responsável por cerca de um quinto das emissões de gases de efeito estufa no planeta.

O metano retém o calor solar cerca de 20 vezes mais que o dióxido de carbono, o gás de efeito estufa presente em maior quantidade na atmosfera, e corresponde a 40% das emissões agrícolas.

Ele é emitido em grande parte no arroto do gado e no cultivo de arroz.

Os pesquisadores estimam que os antibióticos podem alterar a atividade microbiana no intestino do gado. Isto sugere que os antibióticos podem estar aumentando também as emissões de metano nos arrotos, que são muito maiores que as emissões no esterco.

São necessários mais estudos para quantificar a contribuição do uso de antibióticos na pecuária para o aquecimento global, segundo os pesquisadores.

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O uso rotineiro de antibióticos em animais de criação em países como os Estados Unidos é responsabilizado por contribuir para o aumento da resistência aos medicamentos em seres humanos – transformando doenças que são facilmente tratáveis em doenças potencialmente mortais.

As bactérias que adoecem os seres humanos e os animais podem desenvolver resistência quando os medicamentos são ministrados sem necessidade, por períodos curtos demais ou em doses insuficientes.