A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) encerra no próximo dia 5 uma consulta pública que visa regular o mercado de cosméticos, perfumes e higiene pessoal para crianças. Trinta e três produtos voltados para o público entre zero e 12 anos estão sendo analisados. A proposta analisa critérios como formulação, testes de segurança, rotulagem e faixa etária indicada e vai substituir a atual legislação, de 2001. Uma das exigências é que o produto seja fabricado especialmente para crianças e seu uso ocorra sob supervisão dos pais.
Pela regra em discussão, desodorantes poderão ser usados a partir dos 8 anos e desde que não possuam substâncias antiperspirantes. Meninas de 3 anos já poderão usar sombra, brilho labial e batom com a ajuda de um adulto. Depois dos 5 anos, ela mesma já poderá usar os produtos sozinha.
Ressalvas
Para a psicopedagoga Marinês Mendonça, a liberação de cosméticos infantis pode trazer malefícios para o crescimento emocional da criança, embora a permissão para o uso ou não da maquiagem deva partir dos pais. "A família tem que pensar na maturidade da criança, que ao usar sombra ou batom ela acaba se tornando a miniatura de um adulto", diz.
Para ela, ter esses produtos à disposição mais facilmente incentiva o consumo. "Não aconselho nem a troca do produto de uso adulto pelo infantil. Nesse caso não se trata só dos malefícios estéticos, mas psicológicos também", completa.
Segundo a dermatologista Rossana Spoladore Hurtado, uma criança alérgica que passa a usar cosméticos acaba acelerando o processo alergênico. "Quando chegam ao consultório é porque têm problema de alergia. E o pior é que geralmente as crianças estão com batom e esmalte, que não são infantis. Dia desses uma delas me disse que sabia que não podia usar, mas usava mesmo assim", conta.
A médica diz ainda que de um ano para cá tem sido comum incluir exames envolvendo cosméticos na bateria de testes padrão para verificar alergia. Fabiana Mulinari Brenner, também dermatologista, aconselha os pais a não colocar os filhos em contato com produtos que contenham química em excesso antes da idade escolar. "Se em último caso a criança for usar a maquiagem, que seja o da linha infantil, e que possua o tarjamento da Anvisa."
Interesse começa na observação da mãe
Sabrina Hara, de 12 anos, começou ainda pequena a se interessar pelo mundo da beleza. Aos 7 anos, já gostava da bancada de maquiagens da mãe. Curiosa, chegava perto e perguntava se podia usar também. Hoje, a menina tem seus próprios produtos de beleza, mas só os usa com a supervisão da mãe, a jornalista Cecília Hara, de 42 anos.
"Quando percebi que ela gostava disso, orientei a não emprestar para as amiguinhas, por questões de higiene. Comecei também a procurar produtos específicos para a idade dela, o que nem sempre foi fácil", conta.
Já a psicóloga Silvia Rocha, de 38 anos, conta que a filha Laura, de 7, é bem vaidosa e que não sai de casa sem passar pelo menos um batom clarinho. "A Laura imita o que eu faço, claro, sou vaidosa também. Sempre explico que ela precisa ler e se divertir, e não se preocupar com isso, porque ela é bonita naturalmente." Mas a mãe também nunca desencorajou a filha a descuidar da aparência. "Cuido dos excessos, mas ela é menina, não posso tirar isso dela. É de sua personalidade."