O corte de R$ 50 bilhões no orçamento federal, anunciado na quarta-feira, vai impactar no repasse de recursos para o governo e prefeituras do Paraná. A União vai reduzir verbas de custeio, diárias de viagens e emendas parlamentares. Em Curitiba, a extensão do trecho sul da Linha Verde (entre o Terminal do Pinheirinho e o Contorno Sul), a emenda mais cara do estado, corre o risco de não receber verbas. Ao todo, das R$ 336 milhões de emendas parlamentares coletivas do estado, R$ 35 milhões se referem à Linha Verde.
O governo federal havia autorizado o repasse de outros R$ 19 milhões via Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) da Copa, que não será afetado pelos cortes. O Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) não confirmou o valor total da obra ontem, alegando que o projeto está em elaboração. Mas em fevereiro do ano passado, o órgão estimava em R$ 58 milhões o custo da extensão. Com isso, a administração municipal teria que desembolsar aproximadamente R$ 4 milhões (quase R$ 1 milhão de contrapartida do PAC).
Por meio da assessoria de imprensa, a prefeitura de Curitiba diz não ter sido informada oficialmente sobre um possível corte no repasse das emendas parlamentares. A administração municipal confia, mesmo que o recurso seja oriundo de emenda coletiva, na manutenção dos recursos pelo fato de a extensão da Linha Verde ser "uma obra estruturante".
Em Maringá (Noroeste do estado), o corte orçamentário pode bloquear o repasse de recursos para obras de infraestrutura urbana. Em Cascavel, o assunto foi tema central da reunião da Associação dos Municípios do Oeste do Paraná (Amop), realizada ontem. (leia mais nesta página)
Integração
A extensão da Linha Verde é considerada uma obra essencial na integração entre capital e região metropolitana (RMC). "Existe consenso de que Curitiba não se limita às suas divisas. O planejamento da capital precisa ser pensado em conjunto com a região metropolitana para que todos se desenvolvam de forma organizada", explica o membro do Conselho Consultivo do Instituto de Engenharia do Paraná (IEP), Luiz Cláudio Mehl. Para Mehl, a intervenção é tão importante que se compara à trincheira construída na Avenida Rui Barbosa, em São José dos Pinhais, que trouxe benefícios tanto ao município quanto para a capital especialmente aos usuários do Aeroporto Afonso Pena.
A melhoria da mobilidade pode se transformar em um atrativo para Fazenda Rio Grande, facilitando a instalação de empresas e diminuindo o número de pessoas que moram no município mas trabalham em Curitiba, na opinião do coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo e professor do mestrado e doutorado em Gestão Urbana da PUCPR, Carlos Hardt. "As demandas já existem para esse investimento. Espero que o recurso venha porque, em curto prazo, a obra vai se tornar cada vez mais necessária", opina. Os benefícios da obra se estendem a todos que trafegam pela rodovia.
O professor ressalta que a continuidade da Linha Verde é uma das intervenções fundamentais para a melhoria de mobilidade da capital em prol da Copa do Mundo. "Mesmo que muitos pensem que não tenha nada a ver com a Copa, essa intervenção influência sim no planejamento. Caso não saia do papel, pode atrapalhar toda a preparação de Curitiba", diz. Hardt explica que a construção de ligações tangenciais (vias que ligam cidades da RMC sem passar por Curitiba) e radiais (que dão acesso à capital) precisam se complementar para a mobilidade ser incrementada. Mehl concorda e ressalta que são intervenções fundamentais. "Todos deveriam ter o direito de ir e vir com fluidez", argumenta.
Objetivo
A extensão da Linha Verde no trecho sul é uma obra inicial em um grande projeto de melhoria da ligação entre Curitiba e Fazenda Rio Grande. Há uma ideia para se criar uma linha de ligeirão (semelhante à ligação entre o Centro e o bairro Boqueirão, na capital). Após o Contorno Sul, no entanto, o trecho é de responsabilidade da Autopista Planalto Sul, da concessionária espanhola OHL. Com isso, prefeituras de Curitiba e Fazenda Rio Grande, Coordenação da Região Metropolitana (Comec), além da própria OHL, precisam entrar em acordo para definir o restante da obra.