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Christian Luiz da Silva, da UTFPR, é o responsável pela pesquisa sobre o lixo | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
Christian Luiz da Silva, da UTFPR, é o responsável pela pesquisa sobre o lixo| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Curitiba, que ganhou fama internacional pelo programa Lixo que não é Lixo, atualmente destina apenas 5,7% dos resíduos coletados para reciclagem, e não consegue tirar muito proveito deles. Do total que vai para reciclagem, apenas 57,32% são efetivamente reaproveitados. Os dados fazem parte de um relatório técnico produzido na UTFPR para avaliar o desempenho da cidade em relação à Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), em vigor desde 2010.

INFOGRÁFICO: Confira outros dados da pesquisa sobre o lixo

O estudo, feito pelo professor Christian Luiz da Silva, compara a situação de Curitiba com outras quatro capitais de porte populacional semelhante. A taxa de reaproveitamento do material reciclado é a segunda pior, atrás apenas de Recife (43,35%). Em Belém e Manaus, onde os catadores têm papel relevante e já fazem separação seletiva na coleta, a taxa de reaproveitamento é de quase 100% -- veja infográfico.

“O volume coletado nessas duas cidades é baixo, mas o aproveitamento é quase total. Em Curitiba, o lixo que vai para o caminhão tem muita mistura”, observa Silva. Segundo ele, nos anos 80 a capital paranaense conseguia reciclar quase 10% do total coletado, mas o índice foi caindo gradativamente, ao longo dos anos. “É preciso incutir um comportamento cultural de reciclagem por meio de ações de marketing continuadas, permanentes. A situação atual é fruto de ausência de política continuada, especialmente de educação ambiental”, afirma.

Ainda que tenham perdido força, as ações de marketing do passado ainda rendem frutos. Tanto é que o percentual de material reciclado em Curitiba é bem maior do que outras capitais. Outro dado positivo é a quantidade de resíduo geral produzido pelos curitibanos: 0,88 kg por dia, o menor valor observado desde 2008 e o mais baixo em comparação com as demais cidades, que geram acima de 1 kg diário per capita.

“É uma questão cultural, relacionada com o programa Lixo que não é lixo, que já tem quase 30 anos, e foi preservada e internalizada em Curitiba. Mas essa cultura precisa ser reavivada continuamente pelos órgãos públicos”, opina Silva, membro do Observatório da PNRS e professor do mestrado em Planejamento e Governança Pública da UTFPR.

Custos

Um dos problemas que atinge Curitiba e outras capitais é o alto custo da gestão de resíduos. A despesa com limpeza urbana na cidade chegou a R$ 125,34 em 2014, o que representa aumento de 47,3% em relação a 2008, já descontada a inflação. “No comparativo com as demais capitais o custo não é tão elevado, mas subiu muito, e acende o alerta para a necessidade de se repensar o sistema”, diz o professor. O crescimento da despesa foi uma das motivações para a prefeitura apresentar um novo modelo de gestão do lixo no último dia 22 de junho.

Fiscalização

O estudo mostra que a Política Municipal de Gestão de Resíduos de Curitiba está alinhada com o que exige o marco legal nacional. O professor Christian Luiz da Silva pondera que há necessidade de esclarecer melhor quais são as ferramentas e métodos para fiscalizar a geração de resíduo de estabelecimentos privados e públicos. “Em Salvador, por exemplo, há uma lei municipal interessante, que exige do estabelecimento que será aberto um plano que mostre como será feita a disposição, separação e destinação do lixo”, explica.

Carrinheiro poderia atuar como agente ambiental

Os dados da pesquisa levam em conta dados oficiais e número de trabalhadores formais na gestão de resíduos. Dessa forma, a atuação de carrinheiros não foi avaliada. Segundo o professor da UTFPR Christian Luiz da Silva, a formalização é fundamental para a prefeitura controlar melhor toda a cadeia produtiva dos resíduos.

A situação, porém, é complexa e delicada, diz Silva. Algumas experiências pelo Brasil mostram que muitos carrinheiros têm dificuldade para deixar a vida itinerante, mesmo que tenham essa possibilidade. “Muitos apresentam dificuldade para se estabelecer em trabalhos fixos dentro de cooperativas, por exemplo”. Uma alternativa seria alçar os carrinheiros à condição de agentes ambientais. Por atuarem em contato direto com a população, poderiam transmitir mais informação sobre separação de lixo, reciclagem e outros conceitos de educação ambiental.

“Os investimentos em políticas continuadas de educação ambiental geram um resultado muito bom para frente, e compensam os valores investidos”, acrescenta. Ao assumirem função semelhante, os carrinheiros deixariam a coleta manual, que não é produtiva, e pode gerar uma série de problemas sociais, como exploração de força de trabalho, como revelou reportagem recente da Gazeta do Povo sobre a situação de barracões de lixo reciclável.

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