Pelo menos na teoria, as escolas públicas deveriam ser iguais. Recebem recursos compatíveis com o número de alunos que atendem, o material didático é o mesmo e o corpo docente passou por concurso público, o que pressupõe formação homogênea. Mas na prática não é bem assim. Escolas com pouca distância entre si apresentam muitas diferenças nos resultados obtidos pelos alunos.
Tanto na rede estadual de ensino como na municipal há um pequeno número de estabelecimentos que se destacam. Prova disso é o resultado do Índice da Educação Básica (Ideb), realizado pelo Ministério da Educação em 2005 e divulgado há 11 dias. No Paraná, só 15 das 3.751 escolas públicas existentes atingiram a meta prevista pelo governo federal para 2021.
Três destas escolas estão em Curitiba, e uma delas fica a dez quarteirões da que obteve a menor nota na capital. A Escola Municipal Marçal Justen, no Água Verde, tirou três décimos a mais do que 6,0 nota mínima a ser alcançada daqui a 14 anos. Já a Escola Municipal Itacelina Bittencourt, na Vila Guaíra, obteve nota 3, menor desempenho no município.
A diferença reflete a distância entre as realidades vividas pelos alunos. Na Marçal Justen as cerca de 400 vagas vêm sendo disputadas ao longo dos tempos. Já a Itacelina Bittencourt viveu neste ano a primeira disputa, após um ano da troca de gestão. Tempo em que a diretora Sandra Regina Martins de Souza busca melhorar o nível de aprendizagem de seus 675 alunos 90% deles da Vila Parolin.
Superação
Para Sandra, a condição sócio-econômica é um fator que influencia diretamente no desempenho das crianças. Ela chegou à escola há três anos e era professora da 4.ª série quando a avaliação do Ideb foi aplicada, em 2005. "Entrei em uma turma de 3.ª série que não sabia ler nem escrever. Tive de fazer um trabalho de alfabetização em metade do tempo", lembra.
Em sala, o principal desafio foi tranformar a perspectiva de futuro dos alunos, visão agora ampliada para a gestão da escola. A maioria das crianças tem pais com baixa formação e vive em meio à criminalidade. "As crianças chegam aqui com fome", diz Sandra.
A diretora participa das reuniões das associações de moradores e a falta de material didático deixou de ser desculpa. Sandra aperta o orçamento e no início do ano compra cadernos, lápis e outros materiais. "Os pais não têm recursos. Temos de reter o material para evitar que vendam os cadernos", diz Sandra, que aposta no envolvimento da equipe. "Tem pessoas que não agüentam trabalhar, mas os que estão hoje são muitos dedicados."
Bons professores
A dedicação é o principal fator apontado pela diretora da Marçal Justen, Leni Ketty da Luz, pelo bom resultado obtido. Ela ressalta que os alunos são de realidades sócio-econômicas diversas e que também não conta com a participação maciça dos pais. "A união, comprometimento e amor à camisa fazem a diferença", diz. "A equipe conhece a realidade de cada um. A dificuldade de aprendizagem é trabalhada de maneira individual."
A tradição da escola fez a pedagoga e mãe Carla Ralecha Costa tirar o seu filho Matheus, 11 anos, de um colégio particular há seis anos. Ex-presidente da Associação de Pais, Professores e Funcionários, Carla agora mantém o filho Lucas, 8 anos, na Marçal Justen. "Muitos pais lavam as mãos. Participação só nas festividades, porque em reuniões da associação só aparecem uns 20, em um universo de 400 alunos", diz.