O apoio à implantação do metrô em Curitiba diminuiu em 2014, de acordo com as duas aferições realizadas pelo Instituto Paraná Pesquisas. Segundo o último levantamento, feito em dezembro, para a Gazeta do Povo, 31,3% dos moradores de Curitiba discordam da construção do novo modal. Em dezembro de 2013, 28,6% eram contrários à obra. Três em cada quatro entrevistados responderam que os recursos do projeto deveriam ir para outra área.
O entusiasmo em relação ao metrô cresce em Curitiba à medida que a renda aumenta. Entre os que se declaram das classes D e E, 64,8% apoiam a construção do modal sobre trilhos. Entre os que se declararam as classes A e B, 67,7% disseram apoiar o projeto.
Apesar do apoio de mais de 60% em todas as classes, os entrevistados demonstraram desconhecer o quanto será necessário para que o metrô saia do papel. Dos 816 moradores da cidade ouvidos, 83,5% disseram não ter noção do custo do projeto.
Outra incerteza diz respeito a quem compete a obra. Para 34,4%, o governador reeleito Beto Richa é o maior responsável por trazer o metrô para Curitiba. Gustavo Fruet foi citado por 10,9% dos entrevistados, porcentual de citações abaixo do alcançado pela presidente Dilma Rousseff e pelo ex-governador Jaime Lerner.
A quem pertence
O projeto do metrô de Curitiba soma mais de uma década e é de responsabilidade da prefeitura, hoje sob a administração de Gustavo Fruet. Ao todo, a obra está orçada em R$ 4,6 bilhões sendo R$ 1,4 bilhão dividido em iguais partes para o governo do estado e a prefeitura de Curitiba e R$ 1,8 bilhão do governo federal. O restante deverá vir da iniciativa privada caso a Parceria Público-Privada (PPP) saia do papel.
A licitação foi destravada no último dia 11 pelo Tribunal de Contas do Estado, que havia suspendido o certame em agosto alegando ter encontrado diversas irregularidades no edital. A liberação ficou condicionada a modificações no texto, que ainda não foram feitas.
A enquete do Paraná Pesquisa foi feita entre os dias 1.º e 4 de dezembro, portanto, antes da decisão do TCE. Àquela altura, 68% dos entrevistados disseram não acreditar que o projeto sairia do papel.
Análise "Não é prioridade para todos", diz pesquisador
Para o presidente do Instituto Paraná Pesquisas, o economista Murilo Hidalgo, os resultados do estudo indicam que a população quer o metrô, mas não o vê como prioridade no momento.
"Essa obra pode ter um peso político grande se áreas prioritárias forem negligenciadas. O curitibano quer o metrô, desde que o custo do projeto não afete os serviços essenciais, como a saúde e educação", observa Hidalgo.
A interpretação decorre da leitura dos números. Ao todo, 65% dos entrevistados indicaram ser a favor da construção do metrô. Mas 75% afirmaram que investiriam a verba do projeto em outra área.
Para o presidente do Paraná Pesquisas, o fato de a aprovação do entorno do projeto crescer com a renda mostra que o novo modal é visto como alternativa para quem utiliza o transporte individual.
"O trânsito está caótico. A mobilidade está difícil. Essas pessoas pensam em passar a utilizar o transporte público se o metrô for construído", aposta.
Pelo sim, pelo não
Novo modal divide opiniões. Em comum, o medo da corrupção e temor de que o projeto retire recursos de áreas prioritárias
"O metrô será bom se não deixarem de investir em outras áreas e também no sistema de ônibus comum, que precisa melhorar. Acho difícil que realmente saia [o projeto do papel]. Se sair, vai ajudar a diminuir o nosso trânsito."
Bruna Luiza de Almeida, 19 anos
"A execução da obra trará um impacto na cidade e os benefícios não compensam. Os investimentos deveriam ir para o BRT, que já está instalado e tem custo menor. Essas promessas são eleitoreiras e o metrô não deve sair do papel."
Henrique Rosa, 33 anos "Morei nos EUA e também na Inglaterra. Nesses países, investe-se em metrô por uma razão simples: sistemas de ônibus se esgotam rapidamente. O metrô vai ajudar a desafogar o trânsito, que tende a ficar mais insuportável."
Douglas Carlos Silveira, 40 anos
"Sou a favor do metrô. Mas me arrepia só de pensar nos cartéis formados para os projetos e nos escândalos da Petrobras. Se não houver desvios e for uma licitação séria, esse projeto vai ajudar a mobilidade de toda a região. A cidade está muito congestionada."
Francisco Sanches, 50 anos
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