Hoje, o filho de 8 meses de Vítor Hugo e Aline (nomes fictícios) finalmente voltará para casa. Durante dois meses, o casal participou de uma espécie de terapia para se acostumar com a criança e para que ela não estranhe os "novos" pais. A troca aconteceu em setembro do ano passado, no Hospital Maternidade Alto Maracanã, em Colombo, e foi confirmada em fevereiro. Outros dois casos semelhantes marcaram o país. Em abril, duas famílias de Goiânia destrocaram bebês após a confirmação do DNA. E em 1.º de maio, no litoral do estado, o Hospital Paranaguá registrou uma troca, mas impediu a saída das mães e das crianças até a confirmação, no último dia 11.
Um acontecimento de tamanha importância não passa incólume à vida das pessoas, sobretudo das mães e dos pais. Em um primeiro momento, as mães rejeitam a possibilidade de troca, pois já se acostumaram com o temperamento da criança. A legislação, entretanto, exige a "devolução" quando a confirmação é realizada. Existe melhor maneira de lidar com a situação? Vítor Hugo, assim como psicólogos consultados pela reportagem, diz que o acompanhamento psicológico foi essencial, auxiliando na aceitação e na criação de vínculo afetivo com o bebê. "É uma situação muito complicada. O acompanhamento psicológico é fundamental", afirma ele.
O que está em jogo nesses casos é o vínculo de apego, mais importante muitas vezes do que a relação maternal/paternal. A fim de facilitar essa aceitação, os psicólogos trabalham, nesses casos, com o conceito de que um novo filho chega não que o "antigo" parte. "Geralmente, essas mães falam que têm dois filhos. É importante que não haja uma substituição, mas a sobreposição do afeto. E a ajuda psicológica auxilia a entender esse processo", explica Berenice Morozowski, psicoterapeuta especializada em psicologia jurídica. Em Goiânia, apesar de a troca ter se realizado três dias após o resultado do exame de DNA, as famílias estão recebendo auxílio psicológico.
Com o apoio, a rejeição, reação comum por parte dos pais, diminui e se transforma em afeto. Foi assim com Aline e existe a tendência de que seja com a imensa maioria das outras mães. "Toda mãe projeta a imagem de um bebê idealizado na gestação e vê essa criança de forma diferente quando nasce. Por isso a troca é algo tão complexo", comenta Berenice. "Com o passar do tempo, as coisas vão se acomodando. Depois de um luto coletivo, os pais percebem que vão sobreviver, mesmo que a troca seja feita", afirma.
Efeito infantil
Ainda não existem estudos consistentes mostrando a consequência da troca de pais sob o ponto de vista infantil. Psicóloga do Hospital Pequeno Príncipe, Maria Consuelo da Costa esclarece que, quanto mais cedo for realizada, menores serão as consequências. Os efeitos vão depender do modo e da história que as mães vão contar no futuro. "Nossa memória se constrói a partir do que nos contam. Por isso, o sentimento da criança será semelhante à maneira como os pais lidaram com a situação no momento da troca", esclarece Maria Consuelo. As crianças, para ela, têm o direito de conhecer a sua história e, por esse motivo, não se deve omitir as informações.
"No acompanhamento psicológico, é importante trabalhar todas as dúvidas que surgem. Na medida em que se trabalha com essas questões, fica mais simples lidar com o conflito", diz Maria Consuelo. Com o apoio, existe a tendência de que os efeitos para a criança sejam menores. Na maior parte dos casos, as duas famílias criam vínculo afetivo e tentam se manter próximas. Dessa maneira, existe a possibilidade de a criança conhecer e estar ligada aos pais "falsos", facilitando a compreensão. "Não existe um estudo realizado a médio prazo para saber qual será o comportamento dessas crianças no futuro. E seria até invasivo realizá-lo", explica Berenice.