A vigésima rebelião do ano no Paraná terminou ontem após 30 horas de negociações entre detentos, Polícia Militar e representantes da Secretaria de Estado de Justiça (Seju), responsável pelo sistema penitenciário. Os presos mantinham dois agentes penitenciários como reféns desde o começo da manhã de terça-feira. Sem feridos e com as reivindicações dos presos aceitas pelo governo do estado, o motim na Penitenciária Estadual de Piraquara II (PEP) apresentou uma nova situação nos presídios do Paraná: há um racha entre detentos de uma facção criminosa de São Paulo, que domina presídios no país, e um grupo de oposição em Piraquara. Além disso, os presos usaram livremente celulares dentro das celas e não pediram transferências - algo comum nos últimos anos.
Mais recentemente, esses problemas ficaram evidentes no estado. Em frente ao Complexo Penal de Piraquara, há um bloqueador de celulares que não alcança todos os pontos do presídio. Familiares falaram com detentos e até transmitiram alguns momentos das negociações. Segundo André Luiz Ayres Kendrick, diretor assistente do Departamento de Execuções Penais do Paraná (Depen-PR), até o fim do ano o complexo deverá contar com um sistema de raio x nos mesmos moldes do que há no aeroporto.
De sábado até ontem, quando acabou a segunda rebelião no mesmo pavilhão em um período de três dias, o motivo dos motins era o medo dos presos de oposição a facção. Após encerrarem a primeira rebelião, no fim de semana, os detentos teriam iniciado ameaças contra os faccionados, que revidaram nos dias seguintes. O fato motivou o início da rebelião os opositores, que acabou ontem. Eles pediram um muro que dividisse a PEP II entre faccionados e opositores. Conseguiram uma chapa de aço para reforçar a divisão entre as galerias, o que já garantiria a segurança deles. Além disso, Kendrick afirmou que a Seju aceitou manter as visitas e entrega de sacolas com objetos pessoais durante a semana.
Mudança
Os detentos que participaram da rebelião foram transferidos para outras galerias e devem voltar ao mesmo local depois que os reparos estiverem terminados. Essa foi outra reivindicação atendida. "Todo evento como este gera uma sindicância", disse Kendrick, sobre a possibilidade de agentes estarem insuflando rebeliões. Os presos também deverão responder a mais um processo e poderão ter as penas aumentadas. Até o fim da noite de ontem, o governo do estado não havia divulgado um balanço da operação pente fino que ocorreria nas galerias.
Alerta
Algumas horas depois do fim da rebelião, o secretário de Estado da Segurança Pública, Leon Grupenmacher, concedeu uma entrevista coletiva no quartel do Comando Geral da PM, em Curitiba. Ele voltou a afirmar que a polícia está investigando se há envolvimento de agentes nas rebeliões e ressaltou que todos os presídios estão em alerta. "Todos os presídios estão em atenção máxima e toda a parte da Secretaria está sendo colocada em atenção redobrada para prevenir e evitar danos maiores", disse, sobre a possibilidade de novas rebeliões.