Depois de antecipar o início das atividades da polícia comunitária na Cidade Universitária para segunda-feira (7), a Universidade de São Paulo (USP) informou que também vai estender o modelo para a Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), a USP Leste, em Ermelino Matarazzo, que sofre com corte de segurança terceirizado.
A aceleração do processo, que começou a ser discutido em fevereiro deste ano e prevê a chegada de policiais jovens e “conhecidos” dos alunos à USP, acontece depois de o estudante de Letras Alexandre Simão Oliveira Cardoso, de 28 anos, ter sido baleado no câmpus do Butantã. A USP Leste já estava na mira da reitoria, mas ainda não havia uma posição definitiva sobre levar os policiais à unidade, que tem baixos índices de criminalidade. Além disso, haverá ali sistema de videomonitoramento com câmeras. Não há prazo para o início das ações na EACH.
A medida é anunciada após a unidade cortar metade de sua segurança terceirizada. Dos 28 funcionários que faziam a ronda nos 290 mil m² da universidade, sobraram 14, após duas reduções no ano passado, em meio à crise financeira da USP, que gasta mais de 100% do orçamento com pessoal.
O corte fez os funcionários que ficaram terem de dividir a atenção pelos 19 prédios. Ao menos quatro estão descobertos ao longo do dia - ginásio, auditório, biblioteca e enfermagem. Nos prédios da graduação, que tinham um segurança para cada andar, hoje há apenas um. “O cobertor está curto”, admitiu o responsável pela segurança, Luciano Picoli. Embora esses funcionários sejam responsáveis só pela segurança patrimonial, servidores e alunos dizem que a presença deles ajuda a inibir possíveis criminosos.
“Há casos de danos em vaso sanitário, nas saboneteiras, carteiras e até pichações”, apontou Picoli. Também há pequenos furtos a objetos dos estudantes. “Sabemos de notebooks e mochilas que sumiram no bandejão”, comentou a estudante de Gerontologia Suzane Alves, de 24 anos.
Apesar dos problemas internos, a maior preocupação de estudantes ouvidos pela reportagem é com o entorno. Como a universidade dispõe de portaria e exige apresentação de crachá ou documento para entrar, não há registro de roubos ou sequestros. Mas a principal saída, que dá acesso ao trem da CPTM e à Avenida Assis Ribeiro, onde estão os pontos de ônibus, é alvo frequente dos criminosos.
Informações da Secretaria da Segurança Pública mostram que, no primeiro semestre, 102 pessoas foram presas na região da USP Leste, além de 4 armas terem sido apreendidas. A SSP informa, no entanto, que houve queda de 13% nos crimes contra o patrimônio em relação ao mesmo período de 2014.
“Antigamente ficava uma viatura da PM na Assis Ribeiro. Hoje não tem mais”, reclamou a chefe operacional da Guarda Universitária da EACH, William Kita. Para a delegada titular Regina Celia Issi, do 62º DP, os problemas são causados pelas passagens estreitas que dão acesso à universidade. “Existem gargalos para quem vai à USP de ônibus”, explica. A delegada observa ainda que há um grupo de bandidos que tem como “base” o Jardim Keralux, uma comunidade carente que fica ao lado da universidade.
Vinda de Jundiaí e morando atualmente em uma república a cinco minutos da universidade, a estudante de Lazer e Turismo Haddasa Paravizo, de 17 anos, quase desistiu do curso, depois de ser roubada por três rapazes em bicicletas. “Cheguei a anunciar minha vaga. Fiquei muito nervosa”, contou. Desde o episódio, em março, ela abandonou as caminhadas à pé até a universidade. “Só vou de ônibus.”
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