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A governadora de Pernambuco Raquel Lyra (PSDB) denunciou ter sido alvo de violência política por ser mulher, após um comentário do presidente da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), Álvaro Porto (PSDB) durante o discurso dela no plenário, nesta quinta-feira (1º).
Em um vídeo divulgado na internet, o deputado pernambucano - sem notar que seu microfone estava ligado - disse: “Não entendi nada. Conversou merda demais e não disse nada”. A declaração foi em referência ao discurso de Raquel Lyra sobre as ações do governo dela em 2023 e as promessas para 2024.
Após tomar conhecimento do áudio, a governadora disse que o ato foi uma violência política e que ele revela o que mulheres sofrem na política, além de ter sido um "episódio triste".
"É algo lamentável a ser dito pelo presidente de um Poder. É um ato de violência política o que se passou, às vezes é em gestos, em atitudes, em ações e hoje foi em voz. Lamento porque isso não está à altura do que Pernambuco representa, um diálogo fora de propósito, e revela o que uma mulher sofre nos espaços de poder.", declarou em entrevista à Rádio Transamérica de Recife.
O deputado, que proferiu as palavras sobre a governadora, divulgou uma nota dizendo que "usou uma expressão não condizente com o contexto e local", e argumentou que não fez referência "à pessoa da governadora, mas ao discurso proferido por ela".
Segundo o jornal Folha de S. Paulo, após a repercussão do vídeo, "o canal oficial da Assembleia Legislativa retirou do ar o vídeo no YouTube". A prática não é comum, já que outras sessões de 2023 seguem na plataforma do Legislativo estadual.
Álvaro Porto e Raquel Lyra são do mesmo partido, o PSDB, mas apresentam uma relação turbulenta desde o ano passado. Em nota, a Comissão Executiva Nacional do PSDB manifestou solidariedade a Raquel e repudiou "comentários agressivos contra ela emitidos pelo presidente da Assembleia Legislativa de Pernambuco, Álvaro Porto".
"Nosso partido luta incessantemente para que as mulheres sejam protagonistas de verdade na política e em todos os espaços de poder. Nós, tucanos, temos muito orgulho de termos eleito uma jovem e competente mulher como governadora de Pernambuco e não podemos tolerar manifestações agressivas contra ela, venha de quem vier. Muito menos de um deputado do próprio PSDB", diz a manifestação - divulgada pela Folha de S. Paulo.
O crime de violência política de gênero foi criado por uma lei aprovada em 2021. Pela lei, ficou considerado crime “assediar, constranger, humilhar, perseguir ou ameaçar, por qualquer meio, candidata a cargo eletivo ou detentora de mandato eletivo, utilizando-se de menosprezo ou discriminação à condição de mulher ou à sua cor, raça ou etnia, com a finalidade de impedir ou de dificultar a sua campanha eleitoral ou o desempenho de seu mandato eletivo”. A punição é de até quatro anos de prisão e multa. Se a violência ocorrer pela internet e em redes sociais, a pena pode chegar a seis anos.