Rio Após dez horas, chegou ao fim sem mortes um dos seqüestros de um ônibus mais tensos do país. Armado com um revólver 38, o ambulante André Luiz Ribeiro dominou ontem pela manhã a ex-mulher e fez cerca de 40 pessoas reféns no ônibus da linha 499 (CabuçuCentral do Brasil), na Rodovia Presidente Dutra, próximo a Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Ele agrediu a ex-companheira e ameaçava matá-la antes de se suicidar.
A técnica em radiologia Cristina Ribeiro, de 36 anos, que também é prima de Ribeiro, foi dominada pelo ex-marido na Estrada da Palhada, em Nova Iguaçu. Uma pessoa viu o homem armado e avisou o sargento PM Victor Gonzalez. Quando Ribeiro seria abordado pelo policial, forçou a mulher a entrar no ônibus 499 e rendeu o motorista. Outros passageiros ligaram por celular para a polícia e para familiares para avisar do seqüestro.
Agressões
Testemunhas contaram que o ambulante já agredia a ex-mulher ao entrar no ônibus. Ele a puxava pelos cabelos, batia com sua cabeça em um cabo de metal, dava-lhe socos e tapas. Os dois choravam. Ele avisou que não machucaria os passageiros e acusava Cristina de traição e de tramar sua morte.
Logo depois de entrar no ônibus, ele permitiu que uma senhora descesse. Obrigou o motorista a romper uma barreira da polícia na Via Dutra. Mais à frente, em nova barreira, Ribeiro foi com a ex-mulher para a parte de trás do ônibus. O motorista Flávio Teles Menezes, de 45 anos, aproveitou para fugir.
O cobrador Doady Abraão Santos Alves, de 43 anos, viajava como passageiro e assumiu a direção do veículo, até que uma carreta, orientada pela Polícia Rodoviária Federal, escoltasse o ônibus para o acostamento. Os pneus do coletivo foram esvaziados. O sistema de ar-condicionado foi cortado para obrigar o seqüestrador a deixar que as janelas fossem abertas, permitindo que a polícia acompanhasse a movimentação de Ribeiro.
Gritos
Num dos momentos mais tensos , o ambulante gritava: "Chamem os repórteres. Chamem os repórteres. Quero matá-la em frente à Globo". Nos momentos finais do seqüestro Ribeiro permaneceu no ônibus com a mulher, três passageiros que quiseram ficar no ônibus para evitar que ele cumprisse as ameaças, e o cobrador Luiz Carlos da Silva, que atuou o tempo todo intermediando as negociações.
Às 18 horas o seqüestrador entregou o revólver para os policiais pela janela e os PMs entraram no ônibus. A polícia encobriu Ribeiro, impedindo a imprensa de registrar o fim do seqüestro, uma exigência feita por ele desde o início da ação.
"Foi um final feliz", comemorou o comandante geral da PM, coronel Hudson Aguiar.
Ribeiro foi levado para a 52.ª Delegacia de Polícia (Nova Iguaçu). Ele pode ser indiciado por seqüestro, porte ilegal de arma e agressão. A pena para seqüestro, de 1 a 3 anos, será multiplicada por cada vítima. Cristina foi atendida no Hospital da Posse, em Nova Iguaçu.