A Biblioteca Nacional, no Centro do Rio de Janeiro, avalia se cabe processo contra a Mipe Engenharia, que está realizando reformas em sua cobertura. Na última sexta-feira (19), a despeito das obras que vêm sendo feitas pela empresa na claraboia e na laje, a força da água da chuva fez surgir uma cachoeira no saguão principal de seu prédio.
A instituição federal foi aberta em 1910 e é referência no Brasil para guarda de livros, jornais e revistas. O acervo não foi danificado, segundo a direção, mas os servidores temem pela sua própria segurança e pela integridade das publicações, uma vez que as fortes chuvas vêm se repetindo quase diariamente desde a semana passada.
O jornal O Estado de S.Paulo procurou nesta segunda (22) um dos sócios da Mipe, Emílio Gomes Cardoso, para comentar o assunto, mas ele não deu entrevista. Por e-mail, Cardoso informou que “por cláusula contratual”, estava impedido de passar informações sobre o contrato em questão. Ângela Fatorelli, presidente em exercício da Fundação Biblioteca Nacional (o presidente, Renato Lessa, está de férias, fora do país), disse nessa segunda que será avaliado também o trabalho feito pela Monteiro Vianna Engenharia, que fez obras anteriores na cobertura do prédio. Nenhum representante dessa firma foi localizado ontem pela reportagem - a empresa não estaria mais em funcionamento, segundo a fundação.
“Foi um filme de terror. Não houve danos, além do emocional”, disse Ângela, que nessa segunda correu os diferentes setores para checar se o acervo estava mesmo a salvo. Verificou que só dois computadores foram molhados, mas sem comprometimento para o funcionamento. “Mesmo sem prejuízos ao acervo, vamos procurar entender exatamente o que aconteceu para pensar nas medidas cabíveis”, afirmou. Como outros equipamentos culturais cariocas, a biblioteca não tem alvará do Corpo de Bombeiros para funcionar. O processo de regularização foi iniciado em 2014, encerrado, por causa de pendências, e reaberto em 2016, estando em andamento ainda.
Durante o temporal na cidade na sexta-feira, 19, um cano na laje que fica ao redor da claraboia se rompeu. Eram 19 horas e não havia mais público presente, só funcionários, que não sabiam como agir. A água então escorreu para dentro do edifício, deixando o saguão, por onde entram os visitantes, inundado. O quinto andar, onde ficam o setor de pesquisa e editoração e o setor de eventos, também ficou alagado. Os setores de obras e periódicos não foram afetados porque a água escorreu pelo centro da edificação, e essas salas ficam nas laterais. Na própria sexta, a Mipe foi acionada e fez reparos emergenciais. No sábado, 20, no mesmo horário, voltou a chover forte, mas o vazamento não se repetiu.
As obras em andamento têm financiamento do BNDES e começaram em 2014. Incluem o restauro dos vitrais, originais, recuperação da laje e recomposição do telhado (esta fase, já concluída). Uma próxima etapa, com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) das Cidades Históricas ainda vai começar, para a troca dos aparelhos de ar condicionado, instalados nos anos 1980 e reforma da parte elétrica. A previsão é que tudo seja finalizado até 2018.
A Associação de Servidores da FBN está preocupada com a qualidade da obra na claraboia. “Queremos garantias e vamos cobrar isso incansavelmente da direção. Precisamos saber os termos do contrato e o que está acontecendo com o telhado. O prédio é de 1910 e não temos um plano de emergência”, criticou a presidente da associação, Luciana Muniz. Ela lembrou que em 2012, quando a biblioteca sofreu um alagamento provocado pelo vazamento de um duto do ar condicionado, com danos a livros antigos e jornais, técnicos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) fizeram uma inspeção minuciosa a pedido dos servidores, e concluíram que o prédio deveria passar por vistorias semestrais - o que nunca ocorreu. À época, elementos da fachada chegaram a cair sobre a calçada, colocando pedestres em risco. “Infelizmente o Ministério da Cultura trata a biblioteca com descaso”, disse Luciana.
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