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Uma pesquisa realizada com altas doses de cloroquina, em Manaus, foi interrompida após pacientes apresentarem complicações cardíacas, resultando na morte de 11 pessoas. Os resultados preliminares do estudo, que não confirma a relação do uso da substância com os falecimentos, foram publicados no sábado (11) no medRxiv, um site de artigos médicos, sem serem revisados por outros pesquisadores. Assinam o documento cientistas de diversas entidades, como da Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado, da Fiocruz Amazonas, da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas, do Instituto Oswaldo Cruz, entre outros.
Participaram da pesquisa 81 pacientes do Hospital e Pronto-Socorro Delphina Rinaldi Abdel Aziz, de Manaus, sendo que 41 deles receberam uma dose alta de cloroquina (600 mg duas vezes ao dia por 10 dias, um total de 12 g). Os outros 40 receberam 900 mg no primeiro dia e outros 450 mg nos quatro dias seguintes – como preconiza a nota informativa 05/2020 do Ministério da Saúde, ainda que a pesquisa tenha sido realizada antes da indicação do governo. Os pacientes do estudo também receberam o antibiótico azitromicina, que apresenta o mesmo risco cardíaco.
Depois de três dias, os pacientes que receberam a dose mais elevada de cloroquina começaram a apresentar arritmias cardíacas. No sexto dia de tratamento, sete desses pacientes morreram, levando o grupo de pesquisadores a desistir desse braço da pesquisa. No total, 11 pessoas morreram, sendo que três não estavam, comprovadamente, com o Covid-19.
Marcus Lacerda, da Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado, que aparece como um dos responsáveis pelo estudo, não foi encontrado para dar entrevista nesta segunda-feira (13). Ao jornal New York Times, em matéria publicada neste domingo (12), ele comentou o protocolo da Comissão de Saúde da província de Guangdong, na China, que havia recomendado inicialmente que os doentes do vírus fossem tratados com 500 miligramas de cloroquina duas vezes ao dia, durante 10 dias. "A alta dose que os chineses estavam usando é muito tóxica e mata mais pacientes", disse ao NYT. "Essa é a razão pela qual este braço do estudo foi interrompido mais cedo", afirmou ele, acrescentando que o levantamento estava sendo analisado para publicação na revista Lancet Global Health.
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