| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

Um mês depois do acidente que matou seis pessoas na BR-277, entre Curitiba e o Litoral do Paraná, as famílias das vítimas ainda não tiveram tempo para se adaptar a uma nova rotina. Antes, a dificuldade era para liberar os corpos. Agora, a luta é para conseguir dar início aos processos de indenização, conforme mostra reportagem do Caçadores de Notícias, da Tribuna do Paraná, publicada nesta sexta-feira (5).

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“Durante todo esse tempo a gente ficou nas mãos de corretores terceirizados que não faziam a menor questão de se inteirar do que aconteceu, que ficavam exigindo documentos que queimaram no incêndio”, conta Robson Novakoski. Ele perdeu a irmã, Ana Carolina Novakoski, de 43 anos, e explica que, além da falta de apoio da Concórdia Logística, responsável pelo caminhão-tanque que provocou o desastre, as dificuldades para pedir o ressarcimento pelas perdas materiais representam uma dor a mais.

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“A gente nem entrou no assunto da morte dela ainda. Até agora estamos tentando só a indenização pelo carro da minha irmã, que era financiado. Mas os corretores estavam querendo coisas absurdas, que não existem mais, como a carteira de habilitação e o documento do veículo, por exemplo”, relatou o irmão da vítima.

Ele contou ainda que foi somente nesta quinta-feira (4) que a família conseguiu contato direto com a seguradora, que sugeriu um caminho alternativo, além de ter garantido o pagamento das parcelas pendentes e o repasse para a família do valor residual referente ao que já havia sido pago pelo automóvel.

Por meio de nota, a seguradora apenas esclareceu à reportagem que “em conformidade com o contrato estabelecido com a empresa segurada, os pedidos de indenizações encaminhados com base na referida apólice estão sendo devidamente providenciados”. Para Novakoski, não se trata de dinheiro. “É uma questão de cumprir com a palavra e de respeito às famílias”.

Morre também quem fica

Outra família destroçada é a de Deusedino Cunha. Ele perdeu o filho, Anderson Luiz Cunha, de 43 anos, e o neto, Gabriel Baptista Cunha, de 13 anos.

Pai e filho morreram queimados na volta de um passeio no Litoral,e nem isso teria sido suficiente para sensibilizar a empresa responsável pelo veículo causador do acidente. “Eles apareceram uns dias depois e assumiram só as despesas com os túmulos. Isso eles custearam, mas foi só. E, depois, a empresa sumiu de novo. E tudo o que foi gasto antes ficou pra nós e ninguém ressarciu”, conta Cunha.

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Desde o acidente, que foi registrado no quilômetro 33 da rodovia, a Concórdia Logística tem se manifestado por meio de nota. A empresa mantém o argumento de que tem apoiado a investigação e as famílias e que aguarda o encerramento a conclusão do inquérito para se posicionar sobre as possíveis causas do que chama de “fatalidade”.

Em nota, a companhia ressaltou ainda que está em contato constante comas famílias para oferecer apoio psicológico e os demais suportes . “Esse mesmo suporte foi proporcionado aos demais envolvidos no acidente para solucionar todas as demandas que foram apresentadas”, diz no comunicado.

Sucessão de erros

O laudo de uma análise encomendada pela Comissão Especial da Câmara Federal que trata da construção do Marco Regulatório do Transporte de Cargas no país, por meio do Projeto de Lei 4860/16, aponta que o acidente poderia ter sido evitado.

De acordo com o documento, assinado pelo especialista em investigação de acidentes, Márcio Lopes, o desastre foi o resultado de uma soma de erros, dentre os quais se destaca o fato de o motorista José do Nascimento Pacheco, de 43 anos, ter seguido viagem apesar do problema nos freios no caminhão.

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Pacheco foi preso e ficou dois dias na carceragem da Delegacia de Morretes, que conduz as investigações. Ele foi liberado mediante o pagamento de fiança fixada em R$ 8,8 mil. O homem deve responder pelo crime de homicídio doloso com dolo eventual quando se assume o risco de matar.

Segundo o relatório, a falha foi tanto da empresa, que autorizou a continuidade da viagem, quanto do caminhoneiro, que decidiu obedecer à orientação de um encarregado.

O documento enfatiza ainda que, conforme os registros da Polícia Rodoviária Federal (PRF), “o tracionador, ou cavalo mecânico, já havia se envolvido em três acidentes, sendo um deles classificado como média monta, que poderia comprometer a segurança do mesmo”. Além disso, o veículo trafegava sem o registro obrigatório da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) porque o recadastramento não havia sido realizado e já estava vencido.

A análise encomendada pela Câmara Federal deve ser encaminhada à Polícia Civil nos próximos dias e deve ajudar nas investigações.A investigação policial sobre o acidente ainda não foi concluída.