Após a prisão do ex-comandante do batalhão da Maré, tenente-coronel Cláudio Oliveira, a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Maré, em Bonsucesso, vai ser reaberta ao público na quarta-feira por determinação do secretário estadual de Saúde, Sérgio Côrtes. A unidade havia sido fechada na segunda-feira em virtude da violência no conjunto de favelas da região a pedido do comando da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Segundo a PM, as operações para combater traficantes armados nas imediações eram diárias desde que o tenente-coronel Cláudio Oliveira tinha assumido o comando do 22º BPM (Maré).
Na segunda-feiram, inconformados com o fechamento da UPA, as 16 associações de moradores e ONgs da região disseram que iriam procurar o secretário estadual de saúde para pedir a reabertura imediata da unidade. Moradores do Complexo da Maré e especialistas em saúde classificaram a interrupção das atividades da UPA na comunidade como um retrocesso no processo de segurança e melhoria da qualidade de vida na comunidade. Após episódios de violência nas últimas semanas, a Secretaria estadual de Saúde decidiu fechar a unidade, com o argumento de preservar a população local e os funcionários. A UPA da Maré tem 45 profissionais trabalhando diariamente, atendendo uma média de 290 pessoas.
"Recebemos muitas reclamações de médicos em áreas de conflito, mas nunca soubemos de nada na Maré. O governo não poderia adotar uma medida dessa. O fechamento mostra a incapacidade do estado de garantir a integridade física e a saúde da população", disse o presidente do Sindicato dos Médicos do Rio, Jorge Darze.
A UPA da Maré fica na Rua Nove, na Vila do João, uma via larga e com muitas residências, a quinhentos metros da Avenida Brasil. Os moradores não fazem relatos sobre conflitos nos últimos dias na região, mas, segundo a PM, as operações têm sido diárias, com a ocorrência de confrontos e a realização do mapeamento da área. Na semana passada, foram apreendidos três fuzis, duas metralhadoras, duas pistolas e duas granadas, além de drogas como maconha e cocaína. Na segunda-feira também houve ações nas favelas Nova Holanda e Parque União. Como o atendimento nas UPAs é 24 horas por dia, a PM acha necessário evitar o fluxo de pessoas no local. As escolas estaduais e municipais da região, no entanto, não tiveram a rotina alterada. Segundo a polícia, os horários de entrada e saída de alunos são evitados pelo comando das operações.
Na segunda, o governador Sérgio Cabral lamentou o fechamento da UPA. Segundo ele, em "momentos tensos como esse, em que há uma recomendação da segurança e é melhor abrir depois":
"Dói muito o coração porque foi a primeira UPA a ser aberta por mim, em maio de 2007. Eu lamento, mas chegará o momento em que a Maré estará pacificada e que esse tipo de situação tensa não acontecerá mais, apesar do grande esforço dos profissionais que lá trabalham. Em 365 dias do ano, pelo menos 99% ela fica aberta 24 horas", disse Cabral.
Em setembro deste ano, a UPA de Manguinhos e a Clínica da Família Victor Valla, que são vizinhas no mesmo terreno, fecharam as portas depois que um homem em fuga de uma operação policial em Manguinhos entrou no local desarmado. Na ocasião, cem PMs de vários batalhões faziam uma operação nas comunidades de Manguinhos, Jacarezinho, Mandela 1 e 2 e Varginha, na Zona Norte do Rio.
Na última sexta-feira, quatro homens foram presos na Baixa do Sapateiro, na Maré, depois de operação conjunta do 22º BPM (Maré) com a 21ª DP (Bonsucesso). Apontado como gerente geral do tráfico na favela, Silvio Souza da Silva, o Silvestre, 27 anos, foi capturado. Além dele, foram presos Renan Ribeiro, 22, o Rê, que tinha mandado de prisão; Humberto Ezequiel da Costa, 24, o Pombo; e Edgar da Silvam 23, o Pimpolho. Outros dois menores de idade, que seriam olheiros do tráfico, foram detidos.
Com eles foram apreendidos dois fuzis, uma metralhadora, duas pistolas, munições, granada, cocaína e radiotransmissores. De acordo com o comandante do 22º BPM, tenente-coronel Cláudio Oliveira, a polícia foi à três favelas da Maré - Baixa do Sapateiro, Timbau e Vila dos Pinheiros - para cumprir mandados de busca e apreensão. Durante a ação, que durou a tarde inteira, houve troca de tiros.
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