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Crise aérea

Após um mês, 5 não foram identificados

São Paulo – Os nomes de Michelle Leite, Andrei François Mello, Ivalino Bonato, Levi Leão e Rodrigo Benachio estavam nas primeiras listas de mortos divulgadas após o acidente com o vôo 3054 da TAM, ocorrido em 17 de julho. Entre as 199 vítimas do desastre eles compartilham a segunda – e talvez mais trágica – coincidência: são os cinco que, um mês depois, ainda não tiveram os corpos identificados pelo IML.

Segundo a Secretaria de Segurança Pública, há uma "dificuldade maior" em relação a eles. "As técnicas de identificação utilizadas até agora não deram certo", diz a secretaria.

No caso de Levi Leão, a dificuldade se deve à pouca idade da vítima. Com um ano e sete meses, sua frágil estrutura corpórea foi exposta ao impacto de um Airbus com mais de 60 toneladas e a temperaturas de 1.000ºC. "Infelizmente, é uma situação diferenciada. Ele não tinha ossos totalmente formados, e sim cartilagens", diz Júlia Azevedo, 26 anos, tia do bebê.

Levi voltava com a mãe, Jamile Leão, 21 anos, de viagem ao sul do país. Moradores de Manaus (AM), fariam escala em São Paulo. "O Ildercler (pai de Levi) veio num vôo da Gol antes e chegou a tempo de ver o avião da TAM explodir. Ele está em São Paulo, acompanhado de psiquiatras", disse o irmão de Ildercler, Poncio de Leão, 51 anos.

Michelle Leite tinha 26 anos e trabalhava para a TAM havia um ano e meio. Era da equipe de quatro comissários de bordo responsáveis pelo vôo 3054. Morava na capital. A reportagem não conseguiu localizar sua família ontem.

Rodrigo Benachio tinha 30 anos e trabalhava na Aymoré Financiamentos, do Banco Real. Concluía uma viagem de negócios a Porto Alegre. Na casa de seus pais, em Jundiaí (60 km de SP), ninguém quis falar ontem. Deixou a mulher, Lígia, e dois filhos.

Andrei François Mello, 42 anos, era consultor de marketing do grupo Gerdau. Também viajava a trabalho. Ivanilo Bonato, 54 anos, completa a lista. Ele era gerente executivo da vinícola Aurora, do Rio Grande do Sul.

Ontem, familiares de vítimas do acidente cobraram do ministro da Defesa, Nelson Jobim, a demissão de toda a direção da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Eles se dizem "indignados" com o fato de os cinco diretores terem sido condecorados pela Aeronáutica dias após a tragédia do vôo 3054. Ao fim do encontro com as famílias, Jobim disse que eles terão uma "surpresa" referindo-se a possíveis mudanças na direção da agência.

Segundo parentes das vítimas, o ministro afirmou ainda que demitirá hoje três integrantes da diretoria da Infraero, estatal que administra os aeroportos. Aos jornalistas, porém, Jobim declarou que só decidirá sobre eventuais mudanças na segunda-feira. "Estamos enfrentando dificuldades para encontrar nomes, pois as pessoas querem assumir o serviço público não em momentos de crise, mas com céu de brigadeiro", comentou o ministro.

Durante a reunião, o empresário Christopher Haddad, pai da estudante Rebeca Haddad, morta na tragédia, denunciou a Jobim um lapso de 23 minutos nas gravações da caixa-preta de voz do jato. "A aeromoça diz ao comandante que já foi feita a checagem da cabine e pergunta ‘onde vamos pousar’. Depois disso, há um corte e o diálogo só volta com conversas antes do pouso." Jobim se comprometeu a verificar eventuais irregularidades.

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