Após ficarem parados por uma hora, os ônibus do transporte coletivo de Curitiba voltaram a circular normalmente por volta das 10 horas desta quarta-feira (29). A manifestação, promovida por cobradores e motoristas, foi uma reivindicação por mais segurança nos postos de trabalho do transporte coletivo da capital. A ação começou por volta das 9 horas e causou transtornos em toda a cidade, sendo encerrada após discurso de Anderson Teixeira, presidente do Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Sindimoc), na Praça Rui Barbosa.
Na estação-tubo da Praça Carlos Gomes, da linha Boqueirão, os manifestantes fecharam a entrada e passageiros não puderam acessar o local para pegar o ônibus. No Portão, leitores da Gazeta do Povo relataram que a situação foi idêntica, assim como no Terminal Cabral.
Já na Praça Rui Barbosa, uma longa fila de biarticulados se formou devido à paralisação. Os ônibus convencionais também ficaram parados, alguns passageiros se aglomeraram próximo aos coletivos e houve uma concentração de cobradores e motoristas no local.
Regina Aparecida Teixeira, dona de casa, veio para o Centro para fazer uma consulta. Ela foi a um laboratório médico e saiu de casa as 6h10, para logo voltar para casa, em Campo Largo. "Estou com dois filhos pequenos em casa, sozinhos, estou preocupada porque esqueci o celular em casa e não posso avisar minha vizinha para dar uma olhada neles", disse.
Kelly Cristina Batista, ajudante operacional, mora na Vila Osternak, no bairro Boqueirão, e esperava o ônibus, na Praça Carlos Gomes. Ela trabalhou durante toda a madrugada e aguardava para retornar para casa. "Fui pega de surpresa, não sabia, faz dez minutos que estou aqui e ninguém me disse o que estava acontecendo", disse.
A estudante Caren de Oliveira estava apreensiva durante a paralisação à espera de um ônibus para o terminal do Hauer, na Praça Carlos Gomes. Ela tem uma entrevista de emprego marcada para as 11 horas. "Saí de casa com antecedência, estou com medo de perder o horário e não conseguir chegar a tempo", disse.
A balconista Julia Cristina Schonarth, relatou que, quando chegou ao terminal do Carmo, às 9 horas, não encontrou mais ônibus. "Fui esperar o Boqueirão. Já tinha um ônibus parado, então chegou um [ônibus] da linha Circular Sul, desceu todo mundo e ficou parado. Chegaram mais três ônibus em seguida, inclusive um ligeirinho, e todo mundo desceu dos ônibus", contou.
Os manifestantes relataram que o sistema também foi afetado em pontos mais distantes do Centro da capital e também da região metropolitana.
Trânsito
A Secretaria de Trânsito (Setran) informou que os pontos de maior concentração de ônibus parados ocorreram na Praça Eufrásio Correia, Terminal Guadalupe, e, principalmente, na Praça Rui Barbosa. Agentes do órgão se deslocaram com motos até os pontos críticos para evitar o bloqueio de cruzamentos.
Mesmo assim, conforme a Setran, houve alguns pontos de bloqueios temporários durante a manifestação. Alguns ônibus pararam no meio da pista, o que provocou restrição no fluxo de veículos. O órgão, no entanto, não soube precisar exatamente as ruas em que ocorreram problemas. Às 11h30 da manhã, agentes continuam nas ruas e o fluxo ainda é maior que o normal, mas já não há mais bloqueios, de acordo com a secretaria.
O protesto
Cobradores e motoristas fizeram um minuto de silêncio na Praça Rui Barbosa em homenagem ao cobrador Osaias Caldeira da Silva, morto durante assalto em Colombo no último domingo (26). O presidente do Sindimoc, Anderson Teixeira, fez um pronunciamento antes do fim da paralisação agradecendo pela adesão de 100% da categoria ao movimento. Em seu discurso, ele pediu mais segurança e policiamento para os trabalhadores do transporte coletivo.
O presidente do Sindimoc também questionou se a Urbs, que administra o sistema, irá multar os empresários que não cumprem a lei, empregando motoristas em dupla função, dirigindo e trabalhando como cobrador. No final da paralisação, cobradores e motoristas fizeram uma salva de palmas em homenagem a Caldeira.
Durante a tarde, segundo Teixeira, o sindicato vai fazer uma mobilização para entregar ofícios em vários órgãos do governo e empresas de ônibus. A intenção é convocar uma reunião com todos os envolvidos na administração do sistema de transporte para tentar chegar a um denominador comum sobre medidas para aumentar a segurança dos trabalhadores.
Em entrevista à Gazeta do Povo pela manhã, ele relatou que a indignação com a falta de segurança é grande entre os funcionários do sistema. "A situação é caótica, a maioria dos trabalhadores concorda que do jeito que está não é possível continuar", disse.
Teixeira disse que os motoristas e cobradores não temem uma possível penalidade por conta da manifestação, que pode ser feita pela Urbs, órgão municipal que administra o sistema, às empresas. "Se a Urbs conseguir provar que a categoria tem condições de segurança para trabalhar, que não vai morrer mais ninguém trabalhando vítima de violência, ela pode fazer o que achar que tem direito de fazer. Nós achamos que essa manifestação é um direito nosso", relatou.
Presente à manifestação, a cobradora Mari Silva afirmou ser uma vítima dos frequentes assaltos. Há dois anos, ela foi esfaqueada na barriga durante um assalto na linha Curitiba - Posto Paris. "Acho que está na hora dos órgãos responsáveis tomarem providências. Antes, havia policiais à paisana nos ônibus, agora não há mais isso", afirmou ela. A cobradora disse que já foi assaltada cinco vezes em serviço.
Urbs fará apuração junto a empresas
A assessoria de imprensa da Urbanização de Curitiba S/A (Urbs) confirmou que no período entre 9h30 e 10 horas a paralisação teve 100% de adesão. A autarquia municipal monitorou o protesto pelas 400 câmeras do Centro de Controle Operacional que já estão funcionando e por meio dos fiscais na rua.
De acordo com a empresa, os fiscais, que tem autonomia de mandar um ônibus seguir viagem, não entraram em confronto com manifestantes. Eles orientaram os passageiros e fizeram um trabalho para tentar minimizar o impacto aos usuários.
Conforme informações repassadas pelo órgão, em um primeiro momento a prioridade é normalizar o fluxo dos ônibus. Há equipes na rua para evitar a formação dos chamados comboios, quando vários ônibus de uma mesma linha ficam em fila. Às 11 horas, segundo a Urbs, há alguns ônibus atrasados, mas a maior parte do sistema já voltou ao normal.
O órgão municipal disse ainda que vai fazer uma apuração de cada um dos ônibus. A intenção é fazer um relatório completo de quanto cada veículo ficou parado. O resultado desse levantamento poderá ser transformada em penalidade às empresas, que podem ser multas ou o cumprimento de outras exigências. Não há prazo para a conclusão da obtenção deste panorama completo da paralisação.