A notícia do aumento do salário mínimo do Paraná para até R$ 437, aprovado por unanimidade pelos deputados da Assembléia Legislativa, dividiu opiniões das entidades do estado. Setores ligados aos empresários falam em aumento da informalidade e até em demissões decorrentes do reajuste salarial. Entidades dos trabalhadores, porém, comemoraram a aprovação do novo piso regional que vai beneficiar categorias que não têm piso salarial definidos em convenções trabalhistas.
Agora aprovado, o texto final da proposta de elevação do salário mínimo será encaminhada para o poder executivo para que seja sancionada pelo governador Roberto Requião, o que deve acontecer ainda nesta semana. Os trabalhadores devem receber o primeiro pagamento no novo valor em junho.
Demissões
Na manhã desta terça-feira, um dia após a aprovação da matéria, Carlos Alberto Albuquerque, assessor do presidente da Federação de Agricultura do Estado do Paraná - Ágide Meneguette - disse que "os produtores e o agronegócio paranaense não têm condições de suportar um salário de R$ 437", ratificando o que disse Meneguette, no dia 02 de maio, durante pronunciamento no plenário da AL.
Citando uma pesquisa feita entre os agricultores, Albuquerque afirma que se com a crise que assola o campo, "uma das maiores dos últimos anos", já provocou demissões, "imagina agora, que o produtor terá que aumentar o salário", disse o assessor projetando uma visão pessimista para o setor. "Desde o segundo semestre de 2004 estamos tendo prejuízo. Nós estamos perdendo cerca de um terço do PIB (produto interno bruto) agrícola - algo em torno de R$ 10 bilhões", estima Albuquerque, fundamentando as perdas, basicamente, em virtude da febre aftosa e da baixa cotação do dólar.
A favor do novo mínimo
Quem não acredita em aumento do desemprego e da informalidade é o presidente da Central Única dos Trabalhadores do Paraná (CUT-PR), Roni Anderson Barbosa. Por telefone, Barbosa disse que o aumento do salário representa um avanço para o trabalhador de baixa renda. "Acredito ainda que esse reajuste pode provocar uma melhor distribuição de renda no estado", disse.
Em relação a um possível aumento da informalidade, Barbosa diz que é necessário um acompanhamento, além da CUT e do governo estadual, da Delegacia Regional do Trabalho (DRT) para intensificar a fiscalização evitando a informalidade.
Sobre o valor alcançado, de até R$ 437, o presidente da CUT-PR acha que é um bom começo, mas não é o ideal. "Para nós o melhor seria o valor calculado pelo Departamento Intersindical de Estudos Sócio Econômicos (Dieese), em torno de R$ 1,4 mil". O salário idealizado pela CUT, foi proposta numa emenda apresentada pela bancada do PPS, mas não aprovada pelos deputados. A emenda propunha um aumento anual de 7% acima do valor da inflação por seguidos 12 anos para chegar ao valor do Dieese.
Domésticos
O sindicato que representa os Empregados Domésticos do Paraná reagiu à aprovação do novo mínimo no estado como um presente atrasado - já que no último dia 27 foi comemorado o dia nacional da empregada doméstica. "Foi uma forma de valorizar a empregada doméstica que há muito tempo não tinha o trabalho reconhecido", definiu a presidente Reginalda Oliveira Santos.
Reginalda, porém, adverte que nos primeiros meses pode acontecer algumas demissões em virtude do empregador encontrar dificuldades para aumentar o salário, mas que a longo prazo o cenário deve mudar. "Hoje a empregada já ganha mais que o novo mínimo, algo em torno entre R$ 450 e R$ 500, por isso não acredito em muitas demissões", disse a presidente. "Hoje muitos empregadores nos procuram para regularizar a situação da empregada com medo de ações na justiça. Desta maneira, acho que o número de trabalhadores com carteira assinada deve aumentar", completa.
Microempresários
O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Rodrigo da Rocha Loures, acredita que a regulamentação do salário mínimo regional não levou em conta o impacto da medida para as microempresas e as dificuldades que o novo valor vai acarretar aos variados ramos de negócios existentes no estado.
Segundo Loures, muitos empresários não poderão se adequar ao novo piso, o que pode acarretar demissões e aumento da informalidade nas relações trabalhistas.
Para o presidente da Fiep, o governo precisa incentivar o empreendedorismo e o ganho de produtividade e deixar que o salário seja objeto de uma livre negociação.
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