O aquecimento do clima foi classificado como "inequívoco" pelo relatório do Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), divulgado ontem. O documento revela que há um elevado grau de consenso na comunidade científica de que a principal causa do aquecimento está na emissão de gases do efeito estufa, em especial o dióxido de carbono (CO2) resultante da queima de combustíveis fósseis e do desmatamento provocados pela ação humana.
A conclusão do IPCC, um painel científico mantido pela Organização das Nações Unidas (ONU), é de que o aquecimento do clima é irreversível e pode durar séculos. Os especialistas também apontam que é preciso haver uma mudança nos níveis de emissões de gases do efeito estufa para evitar que a temperatura atinja níveis ainda mais elevados.
Foram traçados quatro cenários na análise do IPCC, que elaborou projeções para o clima até 2100. No mais otimista, que leva em conta um corte radical nas emissões dentro de uma década, a temperatura pararia de subir e ficaria, no fim deste século, em média 1°C acima da média de 1850 a 1900. O IPCC alerta, no entanto, que nos três cenários menos otimistas, em que a redução das emissões é mais gradual, a temperatura provavelmente subiria mais de 1,5ºC. Em dois deles, o aumento é de mais de 2°C podendo chegar a 4,8°C no cenário em que não há redução das emissões.
A elevação da temperatura deve ser acompanhada por diversas mudanças climáticas, como ondas de calor, inundações e secas. Os oceanos se tornariam mais ácidos, em uma ameaça à vida marinha. O relatório diz que o nível do mar pode subir entre 26 e 82 centímetros até o fim do século, por causa do derretimento de geleiras e da expansão da água marinha ao ser aquecida.
"É extremamente provável que a influência humana seja a causa dominante para o aquecimento observado desde meados do século 20", diz o documento. "Extremamente provável" significa uma probabilidade de pelo menos 95%. No relatório anterior, de 2007, essa probabilidade era calculada em 90%, e em 2001 era de 66%.
"Como resultado das nossas emissões de dióxido de carbono no passado, no presente e as esperadas para o futuro, estamos comprometidos com a mudança climática, e os efeitos vão persistir por muitos séculos, mesmo que as emissões de dióxido de carbono parem", disse Thomas Stocker, copresidente do IPCC.