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Ciência

Aqui, as estrelas vão de caminhão

Se a montanha não vai a Maomé, Maomé vai à montanha. É com o espírito desse tradicional provérbio que o astrônomo Germano Afonso, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), idealizou e construiu um planetário móvel que está levando o mundo da astronomia para milhares de crianças e adultos que nunca haviam tido contato com a ciência das estrelas. As sessões de astronomia, que começaram a ser ofertadas há cerca de um ano, foram assistidas por cerca de 10 mil pessoas em Curitiba, no interior do Paraná, em São Paulo, no Rio de Janeiro, na Espanha e no Paraguai. Estudantes de escolas públicas e até mesmo índios de aldeias do interior já participaram das apresentações.

O planetário, feito com fibra de vidro, funciona dentro de uma esfera oca de 5 metros de diâmetro com capacidade para receber até 35 pessoas por sessão, onde é projetado o céu noturno. Pode ser levado a qualquer lugar rebocado em uma pequena carreta engatada a um furgão. Para lugares onde até mesmo a carreta não pode chegar, como aldeias indígenas distantes, existe uma estrutura opcional – inflável – onde o céu noturno pode ser projetado. Essa estrutura pode ser inflada no local da apresentação e ser levada dentro de um furgão, juntamente com os projetores das estrelas. A tecnologia do planetário, diz o astrônomo, é toda nacional.

As sessões do planetário, explica Afonso, duram cerca de 30 minutos. No interior do planetário, é projetado o céu noturno como ele pode ser visto em um lugar com boa visibilidade de estrelas. Durante a aula, são descritas as constelações tradicionais e também as constelações da astronomia indígena. "As figuras que os índios viam no céu eram diferentes: anta, ema, veado, o homem velho", diz o astrônomo. "Isso serve para mostrar que culturas diferentes têm visões diferentes."

O enfoque das sessões, aliás, se dá justamente sobre a astronomia dos índios brasileiros. Afonso explica que, com base nas estrelas, os índios tinham seu calendário próprio e, a partir dele, sabiam a época do plantio, da caça, a mudança das estações. O astrônomo explica que, embora não haja registro escrito da astronomia indígena, ele conseguiu montar as sessões a partir de pesquisa de campo com os próprios indígenas. "Os índios não costumam se abrir com qualquer um. Mas eu sou descendente de índios, sei falar guarani e conheço astronomia. Eles me vêem como alguém do ‘time’ deles", explica o astrônomo.

O projeto do planetário itinerante foi desenvolvido por Afonso a partir de um planetário indígena semelhante, também projetado por Germano Afonso, que foi instalado no Parque da Ciência, em Pinhais. O astrônomo se desvinculou do projeto do parque. Mas com recursos da Fundação Vitae, de São Paulo, construiu o novo planetário e estruturou o projeto de torná-lo itinerante. Cerca de R$ 500 mil foram investidos pela fundação. Com o apoio UFPR, da qual Afonso é professor aposentado, as sessões de astronomia hoje estão sendo levadas sobretudo para escolas.

Para poder viabilizar as sessões, quem solicita uma apresentação tem que arcar com os custos operacionais (deslocamento, gastos com monitores, etc.), explica Afonso. Mas, segundo ele, por meio de parcerias com o poder público e com entidades privadas, tem sido possível ofertar as apresentações de forma gratuita.

Serviço: mais informações sobre as apresentações do planetário móvel podem ser obtidas pelo telefone (41) 9904-1743 ou pelo e-mail planetarioindigena@hotmail.com.

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