Excessos
Secretário de Articulação Social foi atingido por bala de borracha
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), afirmou ontem que serão avaliados possíveis abusos cometidos pela Polícia Militar na reintegração de posse da comunidade Pinheirinho, invadida há oito anos. "[Abuso] Sempre é avaliado. A operação foi acompanhada por um juiz de direito, filmada e documentada. Mas a polícia tem de cumprir ordem judicial", afirmou. Houve confronto entre policiais e moradores. Ao menos três pessoas ficaram feridas.
Uma delas foi o secretário nacional de Articulação Social, Paulo Maldos, atingido na perna por uma bala de borracha. Ele se disse "indignado" com o que ocorreu. "Tenho militância há algumas décadas, antes da ditadura militar, e pela primeira vez sou agredido dessa maneira, exatamente durante a democracia. E eu, como representante da presidente da República, sou agredido por uma bala [de borracha] desferida a poucos metros [de distância]", afirmou Maldos, que participava das negociações com os moradores. O secretário passa bem e ontem trabalhou normalmente.
O governo federal, que trabalhava para uma saída negociada, se disse surpreendido com a ação. Essa é a segunda ação da PM que opõe o Planalto e o governo de São Paulo em 2012. No início do ano, a ação na cracolândia já havia colocado parte do Planalto em atrito com o governo estadual.
Alckmin disse que 180 assistentes sociais da prefeitura de São José dos Campos foram designados para realizar o cadastramento das famílias que moravam no Pinheirinho, e que o destino definitivo dessas pessoas será definido a partir da conclusão do cadastro. (Folhapress e AE)
Bombas de gás, balas de borracha, veículos e imóveis incendiados foram o resultado do clima de guerra que se instalou ontem nos bairros vizinhos da comunidade do Pinheirinho, em São José dos Campos (SP), um dia após a reintegração de posse determinada pela Justiça. A circulação de ônibus foi interrompida e o comércio fechou as portas, um feriado forçado e tenso para quem vive no local.Desde o início da ação que tirou cerca de 1,5 mil famílias de uma área ocupada de 1,3 milhão de metros quadrados, 30 pessoas foram detidas dez depois de invadir a residência de um casal de idosos.
Segundo moradores e a própria PM, pessoas de fora da comunidade vêm promovendo atos de vandalismo. A pouco menos de um quilômetro do Pinheirinho, a Biblioteca Comunitária Jansen Filho foi incendiada três vezes. Na frente da biblioteca, foi queimado um caminhão da Fundação Hélio Augusto de Souza, o décimo veículo incendiado desde o início do conflito. Duas padarias também foram queimadas.
A polícia apreendeu três adolescentes responsáveis por um dos ataques. Com eles, foram encontrados cigarros e bebidas. Em outro caso, um rapaz com um coquetel molotov estava ao lado de um depósito de gás.
Comércio
Muitos comerciantes não abriram suas lojas. "Deixei tudo fechado para ajudar as pessoas que não têm para onde ir", afirmou Vera Lúcia Barbosa, de 56 anos, que transformou sua lanchonete em abrigo para moradores do Pinheirinho. Na Avenida dos Evangélicos, dois protestos violentos foram reprimidos pelos PMs às 10h30 e às 19 horas. No local, o chão está forrado de cápsulas de balas de borracha.
Para o coronel Manoel Messias Melo, a resposta é adequada. "A força empregada foi a necessária para conter os ânimos." A PM nega que a ação tenha deixado feridos graves. Ontem, o secretário nacional de Articulação Social, Paulo Maldo, foi atingido por uma bala de borracha.
No centro da cidade, uma manifestação em favor dos sem-teto tomou conta da Praça Afonso Pena. Foi determinada uma restrição de acesso ao fórum, por medo de ataques. Grupos em defesa dos sem-teto de Pinheirinho também protestaram na frente do Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo, e em Sumaré, no interior.
Litígio
O terreno onde ficava o bairro Pinheirinho foi avaliado em R$ 180 milhões por um perito, de acordo com a juíza Márcia Loureiro. O espaço tem dívidas e um dos credores é a prefeitura de São José dos Campos. A massa falida da Selecta, dona das terras, deve R$ 15 milhões em IPTU. De acordo com a 18.ª Vara Cível da capital, onde tramita o processo de falência, há outros credores.
Entre os falidos está o empresário Naji Nahas, que chegou a ser preso em 2008 na Operação Satiagraha, da Polícia Federal, que investigava corrupção. A operação foi declarada nula pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).
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