São Paulo Pesquisadores que estudam a Amazônia agora já sabem qual vai ser o primeiro pedaço da floresta a ter espécies extintas. O chamado Centro de Endemismo Belém, área geográfica com 243 mil quilômetros quadrados dividida entre Pará e Maranhão, abriga vários seres vivos endêmicos (que só existem lá) e é a região mais ameaçada de todo o norte do Brasil. O alerta foi dado ontem num estudo apresentado por cientistas do Museu Paraense Emílio Goeldi, de Belém.
"Essa é de longe a pior área da Amazônia em termos de risco ambiental. Restam apenas 23% de floresta intacta disse à Folha José Maria Cardoso da Silva, pesquisador e vice-presidente de Ciência da Conservação Internacional (CI). A ONG é parceira do museu no trabalho, que faz parte do Projeto Biota-Pará.
O quadro consolidado pela análise das imagens de satélite e também dos trabalhos de campo é tão dramático que os autores do estudo estão relacionando o Centro de Endemismo Belém com outros biomas brasileiros e não com o restante da floresta amazônica. "Em termos de destruição, encontramos agora a nossa mata atlântica, disse Ima Vieira, diretora do Museu Goeldi.
A floresta litorânea brasileira, na sua origem, ocupava um grande trecho de terra situado entre Rio Grande do Norte e o Rio Grande do Sul. Hoje, intactos, restam apenas 7%. Na Amazônia, apesar de a área agora analisada ter ainda 23% de floresta, as pressões são tão grandes que os pesquisadores admitem estarem realmente preocupados com o futuro da região, que tem 147 municípios e 5,9 milhões de habitantes.
Aves desaparecidas
A área agora classificada como a mais vulnerável da região amazônia é a que tem o histórico de ocupação humana mais antigo. "As atividades agropecuárias, de forma oficial, são feitas lá desde o século 19. Mas nos últimos 50 anos elas se aceleraram muito, explica a diretora do Museu Goeldi.
Segundo Vieira, o local abriga 30 espécies classificadas como ameaçadas do estado do Pará. "São vários grupos, mas tem um tipo de pássaro que não é visto na região há 40 anos.
Além disso, dois tipos de primata, entre eles o do macaco-caiarara, também correm o risco de serem riscados da floresta. "Começar a perder espécies na Amazônia é algo bastante crítico, afirma Vieira.
"Não estamos mais falando de problemas existentes entre os rios. Nossos parâmetros agora são as estradas, como a zona entre a PA-150 e a BR-010, onde não existem mais blocos contínuos de vegetação florestal.