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Orelhões no meio da via destinada a pedestres, grades no solo com vãos muitos grandes, calçadas feitas com materiais irregulares e escorregadios, placas de sinalização em locais impróprios. Esses são alguns dos maus exemplos encontrados quando o assunto é acessibilidade, segundo a cartilha "Construindo uma Cidade Acessível", lançada no início do mês pelo Ministério das Cidades, com o objetivo de orientar as prefeituras na missão de tornar o ambiente urbano mais seguro para todas as pessoas que circulam por ele.

Em uma volta rápida é possível constatar que a maioria desses obstáculos está presente no Centro de Curitiba. Entre as armadilhas estão orelhões e placas no caminho, grades com vãos muito largos (ideais para prender o salto de sapato) e calçadas estreitas, mal cuidadas ou feitas com materiais lisos e irregulares. Há também situações em que a acessibilidade fica prejudicada por atos de vandalismo ou furtos, como no caso de equipamentos da Copel e da Sanepar.

Para José Leite, membro do Conselho Nacional das Cidades e do Comitê Técnico de Trânsito, Transporte e Mobilidade Urbana do Ministério das Cidades, a sociedade ainda está tomando conhecimento do assunto. "O que vejo são sinalizações de que as cidades um dia serão acessíveis. Falam que Curitiba é uma cidade acessível, mas não vejo desta maneira", afirma.

Leite cita como mau exemplo na capital a utilização do petit-pavé no calçamento, considerado um material perigoso para deficientes e idosos. "Curitiba tem pelo menos 10 mil caminhões de petit-pavé nas calçadas. E não temos mão de obra especializada na cidade."

A opinião de Leite é a mesma do arquiteto curitibano Ricardo Tempel Mesquita, especialista no tema. "Estamos no início da caminhada", diz ele, com a autoridade de quem viaja o interior do estado para dar palestras sobre o assunto. "Vejo cidades sem nenhuma guia rebaixada para deficientes", exemplifica. A esperança é a aplicação do Estatuto das Cidades, que já foi aprovado pelo Senado e será apreciado na Câmara dos Deputados, em Brasília. "A consolidação daria estabilidade às normas que já existem", aposta Mesquita.

Já para José Alcides, presidente da Associação Ecumênica de Apoio ao Excepcional, ainda é preciso quebrar alguns paradigmas. "O patrimônio histórico não pode ser mais importante que uma pessoa. Deve-se dar valor correto às coisas", diz Alcides, que defende uma mobilização dos interessados. "É preciso trocar informações, fazer mobilizações e informar o Ministério Público", avalia.

Vandalismo

Não é só a falta de planejamento que leva a problemas de acessibilidade: o vandalismo também tem sua parcela de culpa. Há cerca de dez dias, uma mulher de 30 anos machucou o tornozelo direito na Rua Comendador Araújo, em uma caixa de proteção do hidrômetro da Sanepar que estava sem a tampa. A caixa é uma espécie de tampa de ferro que fica na calçada. A tampa menor – utilizada pelos técnicos da empresa para fazer a medição do consumo – tinha sido furtada dias antes.

Dois dias depois do acidente, e avisada pela reportagem, a Sanepar mandou uma equipe ao local para trocar a peça. Por meio de sua assessoria, a Sanepar informou que casos como este devem ser informados à empresa pelo telefone 115.

Moradora do Centro, a pedagoga Denise Maria Camargo, 59 anos, já conhecia a armadilha da Comendador Araújo. Esta e outras – ela mesma já sofreu um acidente semelhante, em uma tampa danificada da Copel. "Em outubro, machuquei o tornozelo e fui antedida no Hospital Cajuru", lembra. "Tenho um pai de 87 anos, que anda em cadeira de rodas, e sei como é difícil se locomover no Centro. Já vi muitos idosos caírem. Só não caem mais porque o anjo-da-guarda os protege."

Melhorias

Por meio de sua assessoria de imprensa, a prefeitura de Curitiba informou que vários parques e praças passaram por reformas recentes, para facilitar o acesso de deficientes físicos e demais pedestres. O Passeio Público, por exemplo, ganhou calçadas novas e uma pista de caminhada; já o Parque das Pedreiras, na Pedreira Paulo Leminski e na Ópera de Arame, ganhou banheiros, calçadas e rampas de acesso. Ao todo, 18 locais foram reformados. O prefeito Beto Richa mantém uma assessoria especial para auxiliar em assuntos relacionados à acessibilidade.

Em relação às calçadas, a assessoria informou que a prefeitura vem seguindo a Lei 11.596, de 2005, de autoria do próprio executivo municipal. A lei determina a construção de uma faixa de circulação para pedestres, que deve ser feita em material seguro e antiderrapante. Na reforma das calçadas da Avenida Marechal Deodoro, a prefeitura vem construindo uma faixa destinada à circulação de pedestres, com cerca de 1,20 metro de largura, mesclada com uma área com petit-pavé.

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