Sete anos após a morte da médica e sanitarista Zilda Arns, o processo que pode proclamá-la santa ainda não tem data para ser concluído. Para tentar agilizar o andamento, a Arquidiocese de Curitiba quer trazer o trâmite para Curitiba, já que foi na capital paranaense que a pediatra viveu. A médica foi fundadora da Pastoral da Criança e faleceu no Haiti, após um terremoto que devastou o país no dia 12 de janeiro de 2010. Outras 200 mil pessoas morreram vítimas do desastre e 300 mil ficaram feridas.
Em agosto do ano passado, o arcebispo de Curitiba, dom José Antônio Peruzzo, enviou uma carta ao arcebispo de Porto Príncipe, Guire Poulard, responsável pelo processo, solicitando a transferência dos trâmites para o Brasil. Ainda não houve resposta. A previsão é que, em março, o padre Ademar Rover, responsável pela Pastoral da Criança no Haiti, viaje a Porto Príncipe para conversar pessoalmente com o arcebispo.
De acordo com a instrução Sanctorum Mater, que traz as regras para a fase diocesana dos processos de canonização (antes que a documentação seja enviada ao Vaticano), é o bispo da diocese onde faleceu o candidato à santidade que deve abrir o processo – por isso a causa de Zilda Arns não está em Curitiba, e sim em Porto Príncipe, onde ela morreu enquanto cumpria uma missão humanitária. Mas, se há comum acordo entre o bispo que iniciou o processo e um outro bispo, normalmente do local onde a pessoa viveu a maior parte da vida – justamente o caso de Zilda Arns –, ambos avisam o Vaticano, que formaliza a mudança e remete o processo para outra diocese. Nelson Arns Neumann, filho da sanitarista, explica que ela passou menos de três dias em Porto Príncipe e trazer para o Brasil as investigações sobre suas “virtudes heroicas” poderia ajudar no desenrolar dos trabalhos.
A apuração da Igreja sobre Zilda deve considerar sua história de vida, trajetória e feitos considerados extraordinários. “A Igreja, como qualquer outra instituição, tem seus procedimentos. Não há um prazo específico para a beatificação”, observa Neumann. Alguns processos terminam rapidamente, para os padrões da Igreja – a Madre Teresa de Calcutá foi canonizada 19 anos após sua morte. Outros levam séculos, como o do jesuíta José de Anchieta, que morreu em 1597, foi beatificado em 1980 e canonizado em 2014.
Procedimento
O processo de beatificação só pode ser iniciado cinco anos após a morte do candidato, e normalmente é impulsionado pela comoção popular motivada pela fama de santidade da pessoa – basta lembrar das faixas de “Santo já!” no funeral do papa João Paulo II. Em 2015, 260 mil assinaturas foram coletadas em prol da abertura do processo de Zilda. “É importante coletar o máximo de assinaturas possíveis, pois isso mostra que há apoio da sociedade”, disse na época a freira Veroni Medeiros, responsável por receber as moções.
As assinaturas demonstram apoio popular, mas é do bispo – no caso de Zilda Arns, o bispo de Porto Príncipe – a decisão de abrir um processo e montar um grupo para investigar a santidade da pessoa, que ganha o título de “servo de Deus”. Após esse levantamento, que inclui extensa pesquisa biográfica, exame dos escritos deixados e, quando possível, entrevistas com pessoas que conviveram com o candidato à santidade, conclui-se a chamada “fase diocesana” do processo. Se o bispo concluir que as “virtudes heroicas” da pessoa estão comprovadas, os dados coletados são, então, enviados à Congregação para as Causas dos Santos, o órgão do Vaticano responsável pelo trâmite que leva à canonização.
Em Roma, um relator da Congregação dá parecer positivo ou negativo sobre a causa. Esse parecer é submetido a votações de uma comissão teológica e, depois, dos bispos e cardeais membros da Congregação. Se eles decidirem pela continuidade da causa, enviam ao papa o pedido para um decreto de reconhecimento de virtudes heroicas. Se o papa aceita a solicitação, o candidato passa a ser chamado “venerável”.
“O processo da minha mãe ainda está na primeira fase. Todo o trâmite pode levar anos”, conta Nelson, que seguiu os mesmos passos de sua mãe e hoje é coordenador nacional adjunto da Pastoral da Criança.
Sete anos
Os sete anos do falecimento da médica Zilda Arns Neumann vão ser lembrados nesta quinta-feira, no Memorial Dra. Zilda, no Museu da Vida, em Curitiba. O local fica na Pastoral da Criança em Curitiba, na Rua Jacarezinho, 1691, Mercês.
O trabalho de Zilda Arns beneficiou mais de 2 milhões de crianças e 80 mil gestantes, segundo a Pastoral. A médica, que iniciou sua carreira no Hospital Cezar Pernetta, na capital paranaense, entre 1955 e 1964 – mesmo período em que iniciou sua relação com a Igreja –, foi indicada três vezes ao Prêmio Nobel da Paz pelo Brasil.
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