A ideia de construir uma ponte ligando Guaratuba a Caiobá, em Matinhos, no Litoral do Paraná – reivindicada há mais de cinco décadas – ganha mais uma tentativa. A arquiteta Mirna Cortopassi Lobo, professora da Universidade Federal do Paraná, está desenvolvendo um projeto como alternativa para os 1 milhão de veículos que dependem do ferryboat para a travessia. Seria uma ponte de dois andares, apenas para veículos leves, com espaço para o trânsito de pessoas e bicicletas. O local preferido é onde hoje há as linhas de transmissão, que poderiam ser substituídas por cabeamento subaquático.
A ideia surgiu enquanto a arquiteta elaborava o plano-diretor para a cidade de Guaratuba, encomendado pela prefeitura. Ela identificou que um dos principais entraves do município é o acesso. Contudo, essa não é uma questão que possa ser resolvida pela administração municipal. Mirna decidiu, então, apresentar uma proposta para o governo estadual. Com a experiência de quem já esteve em muitos locais mundo afora, admirando obras arquitetônicas de referência, ela imaginou que uma ponte com dois pavimentos poderia ser a melhor solução.
Ela reconhece que o projeto em dois andares tornaria a obra mais cara – o valor ainda está sendo calculado –, mas alega que o fato de a estrutura ter mais do que a função de permitir a travessia de veículos seria justamente o ponto que poderia viabilizar o projeto. Um dos principais empecilhos para a construção da ponte – além da discussão sobre os impactos ambientais – é o custo do projeto em relação ao fluxo de veículos, concentrado nos meses de temporada de verão. Seria preciso, então, criar estratégias para que a ponte fosse usada em outros períodos do ano.
Para ser custeada somente pelo poder público, seria um dispêndio grande de dinheiro para que apenas um número reduzido de pessoas aproveitasse. Para ser feita pela iniciativa privada, o pedágio ficaria muito caro diante do número de pagantes. O modelo pretendido pelo governo estadual é uma parceria público-privada (PPP), em que parte da obra é bancada pelos cofres públicos e o restante vem de uma empresa que cobra um pedágio um pouco mais barato.
Pela proposta da arquiteta, o projeto ficaria mais caro, mas teria outras fontes de renda além da tarifa cobrada pela circulação. Mirna imaginou a locação ou venda dos 12 mil metros quadrados de espaços comerciais. Ela projetou o espaço para estacionamento de mais de 500 veículos em cada lado da ponte e calculou em vários milhões de reais o que seria arrecadado se cada um pagasse R$ 5 por hora.
Além disso, haveria espaço para uma marina. “É muito comum que barcos atraquem naquela região para ver o nascer e o pôr do sol”, comenta. O uso dos elevadores panorâmicos também seria cobrado. Mirna ainda acredita que circuitos de pesca amadora e de visitação arqueológica dos 107 sambaquis da região poderiam ser atrativos extras.
Nosso litoral é muito pequeno, com baías lindíssimas, mas que acabam por comprometer a cor do nosso mar.
Resposta do governo estadual
O governo estadual informou que recebeu com muito interesse a proposta apresentada pela arquiteta e que está avaliando a viabilidade do projeto. Considerou que a ideia é realmente inovadora e ousada. Tanto as questões estruturais quanto financeiras, bem como os impactos econômicos, ambientais e o potencial aumento no fluxo de veículos estão em estudo.
Vários projetos para construir a ponte de Guaratuba já foram engavetados
- Katia Brembatti
Não é a primeira vez que uma ideia para construir uma ponte entre Guaratuba e Caiobá é apresentada. O alto custo e o impacto ambiental acabam deixando a proposta adormecida, mas de tempos em tempos o projeto ressurge, muitas vezes pressionado pelas dificuldades de acesso a Guaratuba, uma das praias preferidas dos paranaenses e também de turistas de outros estados e países. Para fugir do ferry boat, muitos optam por descer a Serra do Mar e passar por Santa Catarina, na altura de Garuva, antes de retornar ao Paraná.
A Gazeta do Povo já noticiou várias iniciativas que buscaram viabilizar o projeto e até datas para a inauguração, previstas por gestores públicos, chegaram a ser anunciadas. Em 1989, uma emenda à Constituição Estadual determinava a execução da obra, por meio de concessão pública. Em 1991, a lei que regulamenta a ideia chegou a ser sancionada e um processo de licitação foi aberto, mas o projeto não seguiu adiante. Anos mais tarde, o Ministério Público chegou a pressionar para que a obra fosse realizada. Num passado recente, houve protestos, até com o impedimento do acesso ao ferry boat.
Para a arquiteta Mirna Cortopassi Lobo, só será possível sair do planejamento e conseguir concretizar a obra se forem feitas ações ousadas, que não se limitem à monofunção da travessia. “Uma opção é o centro de lazer integrado com várias oportunidades de negócios”, aponta. Para ela, apesar de o Paraná ser marcado por algumas intervenções urbanas voltadas para o turismo, como a Ópera de Arame e o Jardim Botânico, elas são ainda muito tímidas. “Nós não sabemos aproveitar as vantagens que temos”, afirma.
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