Fazer a ponte entre quem sabe projetar e construir e quem mais precisa de um espaço para sobreviver ou compartilhar com a comunidade. Esse é o papel da Architecture for Humanity (AFH ou Arquitetura para a Humanidade, em português), firma sem fins lucrativos, com sede em São Francisco, nos Estados Unidos. Criada pelos arquitetos Cameron Sinclair e Kate Sthor em 1999, a AFH é hoje responsável por ajudar, todos os anos, uma média de 10 mil pessoas em situações difíceis, como refugiados e vítimas de grandes desastres naturais.Neste mês, um dia após o terremoto de 8,9 graus na escala Richter que atingiu o Japão e o tsunami que varreu a cidade litorânea de Sendai, a AFH já tinha uma equipe e uma campanha aberta para doações com o objetivo de construir um primeiro centro comunitário para ser o ponto de partida da reconstrução da cidade. O grupo também teve atuações importantes em outros desastres, como o do furacão Katrina, em Nova Orleans, nos Estados Unidos, em 2005, e o terremoto que atingiu o Haiti, em 2010.
A ideia de Sinclair e Kate surgiu após verem um vídeo sobre a situação dos refugiados da Guerra do Kosovo ex-território da Iugoslávia atacado em 1999 pela Otan, palco de conflitos entre guerrilhas albanesas e forças sérvias que deram origem a mais de 70 mil refugiados. Sem casa e com a proximidade do inverno, o que essas pessoas mais precisavam era de um abrigo. Sinclair imaginou que seria uma oportunidade perfeita para a ajuda de arquitetos. O casal lançou, então, um concurso de design de abrigos para as vítimas em Kosovo e se surpreendeu com a resposta. Em poucas semanas, o pequeno apartamento em que moravam ficou cheio de pranchetas vindas de vários lugares do mundo, com propostas de edificações feitas de borracha reciclada até tendas infláveis.
De lá para cá, a AFH faz, em média, um grande concurso anual nesse sentido, sempre com comunidades, organizações não governamentais (ONGs) e outras configurações humanitárias como clientes. Os investidores? Pessoas, empresas e bancos ao redor do mundo que resolvem doar dinheiro para os projetos. No caso do último projeto feito no Brasil, na comunidade do bairro Santa Cruz, no Rio de Janeiro, quem colaborou com a ideia foi a ONG brasileira Instituto Bola pra Frente e o braço social da Nike (saiba mais nesta página).
Primeiro alvo
No atendimento humanitário, os centros comunitários são o primeiro alvo da AFH porque são o espaço de reorganização da comunidade das necessidades básicas de higiene e alimentação às bases mais duradouras, como a retomada da educação de crianças e adolescentes de uma vila.
Outra característica interessante do trabalho da AFH é a sustentabilidade. Quando se trabalha com comunidades em que o ganha-pão diário é de menos de R$ 1, ser sustentável não é só uma questão de moda ou de ser politicamente correto, mas uma necessidade. Por isso, a maior parte dos projetos preza por soluções verdes nas construções como o melhor aproveitamento possível da ventilação e luminosidade naturais e o reuso da água da chuva , que devem ser possíveis e adequadas à comunidade. Para exemplificar a criatividade e o ideal ecológico em torno dos projetos da AFH, Kate cita uma escola que foi construída nas Filipinas com esforço local, pouquíssimo dinheiro e garrafas plásticas.
O "exército"
A rede de mais de 40 mil arquitetos, designers e outros profissionais garante um potencial de criatividade e respeito às diferenças culturais. Além da sede em São Francisco, são mantidas "bases" em 25 países, mas a vontade de viajar até onde for necessário vence qualquer obstáculo. "Nós gostamos do desafio do trabalho. É algo que necessita de tantas peças dinheiro, documentos legais, suporte da comunidade, liderança para trazer qualquer projeto à vida. Então, quando realmente acontece, é incrível observar a transformação da comunidade", afirma Kate.