Esqueça Irã, Iraque e Coréia do Norte. O novo "eixo do mal" está no centro de Curitiba: é o trecho da Avenida Sete de Setembro, no Centro, entre os shoppings Curitiba e Estação. A expressão foi ouvida pelo gerente de operações do Estação, Ricardo Delmassa. "Eram jovens que estavam na porta do shopping e com medo de ir até o Curitiba", lembra ele. O motivo? Os constantes arrastões e brigas entre grupos de jovens, que acabaram com a tranqüilidade das tardes de domingo na região.

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Até agora, os shopping centers eram considerados ilhas de tranqüilidade. Mas a situação está mudando. Nos últimos tempos todos os grandes shoppings da cidade registraram algum tipo de violência, o que inclui assaltos, tiroteios e ações de grupos baderneiros nos arredores (esses, os problemas dominicais mais freqüentes). Na tentativa de conter o problema, os shoppings reforçam a segurança e estão lançando mão de um expediente complicado: barrar a entrada de "suspeitos".

O problema é mais grave na região central. Patricia Ranzani trabalha em uma loja do Estação com vitrine para a Praça Eufrásio Correia. "A última briga aqui foi no feriado de Finados. Havia umas 10, 15 pessoas com paus e pedras, uma garotada de roupa colorida e cabelo espetado, sobrou até pedrada no nosso vidro", recorda. "Antes era muito esporádico, torcida em dia de clássico ou adolescentes nos dias em que as danceterias da região davam alguma cortesia. Agora os grupos se encontram nas estações-tubo e começam a pancadaria."

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De tanto observar os "vileiros", como são chamados os jovens brigões (que normalmente vêm da periferia), Delmassa traçou algumas características. "Eles marcam os confrontos em muros, tanto aqui perto quanto nos bairros, naquela linguagem codificada deles. E, se os grupos estão equilibrados, em vez de brigar entre si eles se juntam e promovem um arrastão", diz. A secretária Fabiane Zwerchowski presenciou um desses episódios, em outubro. "Estava na Sete de Setembro, quando vi vários garotos com paus e canivetes. Eu e algumas pessoas entramos na hora. Quem ficou acabou perdendo dinheiro, bolsa e celular. Vários adolescentes estavam machucados depois da briga. A polícia apareceu bem depois."

Fabiane conseguiu refúgio no Estação. Não foi o caso da médica veterinária Camile Petruy. No dia 30, ela foi ao shopping com o namorado. Vários grupos de adolescentes bloqueavam a passagem de entrada. Quando se deu conta, a bolsa estava aberta e seu celular tinha sumido.

O Estação virou o ponto dos "vileiros" depois que a vida dos grupos de jovens ficou mais difícil em volta do Shopping Curitiba. "Nas últimas semanas não tivemos arrastão aqui", diz o taxista Orestes Bida, explicando que a Polícia Militar e a própria administração reforçaram a segurança na Praça Oswaldo Cruz, em frente ao shopping. Bida já presenciou várias lutas entre "vieiros": "Eles se arrebentam mesmo. Passam levando roupa, tênis, celular, boné, o que encontram". Houve casos em que os jovens levavam toda a roupa de uma pessoa, deixando homens apenas de cuecas e mulheres de calcinha e sutiã.

Apesar do aparente fim dos grandes arrastões na praça, os pequenos assaltos continuam, afirma Jheniffer da Silva, que trabalha em uma panificadora nas proximidades. "Quatro pessoas arrancaram do rosto do meu marido um par de óculos, durante o dia, com várias pessoas na escadaria do shopping", contou Tânia Barthel em e-mail enviado à redação da Gazeta do Povo. Já Josiane Felício e Aparecida Abdala, que trabalham em uma das lojas do Curitiba, dizem que durante a semana, quando o shopping fecha (por volta de 22 horas), ocorrem arrastões menores.

Em março, a Polícia Militar anunciou que havia planos de mudar a 1.ª Companhia do 12.º Batalhão da PM para a Praça Oswaldo Cruz. Agora, a assessoria de imprensa da corporação informa apenas que a medida ainda está em estudo.

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O shopping mais próximo do "eixo do mal" é o Crystal, onde a chegada dos "vileiros" já causa problemas, afirma o chefe de segurança, o coronel reformado Luiz Eduardo Hunzicker. "No dia 23 de outubro, mais ou menos 60 jovens entraram no shopping e arrumaram confusão com outro grupo que estava na praça de alimentação, com trocas de tapas e pequenos furtos", conta. Ele diz que no estacionamento do Pizza Hut, em frente ao Crystal, já foram encontrados paus e pedras que os adolescentes deixam escondidos para serem usados em brigas (normalmente depois da saída da danceteria Loft, fechada no domingo passado pela polícia). "Mas nossa segurança é suficiente para manter a tranqüilidade dos clientes", garante.